Especialistas discutem tratamento do câncer em mulheres

27 de novembro - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Em comemoração ao Dia Nacional de Combate ao Câncer, médicos de diversas instituições do país discutiram nesta sexta-feira (27), em fórum sobre saúde da mulher, realizado em São Paulo, como melhorar o acesso público a tratamentos de câncer de colo de útero e de mama no Brasil.

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De acordo com dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2016, serão 596 mil novos casos da doença, principalmente de pele, de próstata e de mama. Só de mama, serão 57 mil novos casos no ano que vem.

Foto: jornal O Estado de São Paulo
Foto: jornal O Estado de São Paulo

Uma das discussões mais acaloradas do fórum foi sobre as dificuldades encontradas no país para tratar um tipo agressivo de câncer de mama, conhecido como HER2. A principal queixa dos especialistas se relacionava às diferenças que o tratamento dos tumores de mama recebe nos setores públicos e privados.

Maira Caleffi, presidente da Federação Brasileira de Instituições Filantrópicas de Apoio à Saúde da Mama (Femama), destacou a demora do diagnóstico no setor público.

“No setor privado, leva menos de um mês entre o diagnóstico e a cirurgia do câncer de mama e, no setor público, a espera demora meses e os cuidados são menos eficientes.”

Já Gilberto Amorim, oncologista clínico do Grupo D’Or, ponderou que a saúde privada também está atrasada em relação a países desenvolvidos, visto que os custos do tratamento são altos.

Ainda assim, Amorim criticou a postura do Ministério da Saúde de questionar a eficácia de um medicamento importante no combate à doença. O médico afirmou ainda que o tratamento do câncer no Brasil deveria merecer a mesma atenção que recebe o tratamento da Aids, que é considerado um dos mais avançados do mundo.

Gonzalo Vecina Neto, superintendente do Hospital Sírio-Libanês, comentou essa comparação com o tratamento da Aids e questionou a ausência de laboratórios especializados no diagnóstico de câncer. “No caso do câncer, não há uma rede de laboratórios que fazem o diagnóstico adequado, o que dificulta a prevenção.”

Câncer do colo do útero

Especialistas presentes no fórum sobre saúde da mulher apontaram que o controle do tumor de colo de útero no país ainda é falho. “Os países desenvolvidos conseguiram controlar o câncer de colo de útero por meio da prevenção”, afirmou a oncologista Angélica Rodrigues, diretora do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA).

A prevenção, segundo a oncologista, é a principal arma contra o desenvolvimento da doença, considerando que a principal causa do câncer de colo de útero é a infecção pelo papilomavírus humano, ou HPV, que é sexualmente transmissível.

Ela diz que 80% das mulheres irão ter contato com o vírus até o fim da vida, mas nem todas desenvolvem o problema. Nos casos em que a doença se desenvolve, há dificuldades no acesso a tratamentos, o que faz com que o HPV avance e provoque o câncer. “Óbitos seriam evitados se as infecções fossem tratadas precocemente”, afirma.

Excluindo tumores de pele, o câncer de colo de útero é o que mais mata mulheres. Em todo o mundo, ocorrem 500 mil novos casos anualmente e 300 mil pessoas morrem em decorrência da doença. 87% desses óbitos ocorrem em países pobres. No Brasil, a taxa de ocorrência é de 15 mulheres entre 100 mil.

Já existe vacina contra o HPV, mas ela só é oferecida a meninas na faixa etária de 9 a 13 anos, antes do início da vida sexual.  O fato de essa vacina não ser terapêutica – ou seja, não tratar as mulheres já infectadas pelo HPV – é uma das barreiras para reduzir a incidência de casos no país.

Assim, segundo a diretora do EVA, não há previsão de declínio da doença até o ano de 2040, que é quando as meninas que hoje estão tomando a vacina chegarão à idade adulta, fase em que risco de desenvolvimento do carcinoma passa a ser maior.

Outras dificuldades estão relacionadas à limitação da informação sobre o assunto e à qualidade dos exames realizados. Além disso, há também uma questão cultural envolvida – muitas mulheres deixam de fazer os exames por medo ou por vergonha.

Um outro ponto de atenção diz respeito à especialidade de ginecologia oncológica, ainda não reconhecida no Brasil. Segundo Angélica, pela falta de especialistas em ginecologia oncológica, mulheres com câncer de colo de útero muitas vezes não são operadas por generalistas, o que diminui as chances de sucesso no tratamento.

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