Estupro de adolescente reacende alerta para DSTs

07 de junho - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

Em meio ao sentimento de consternação com o estupro de uma adolescente de 16 anos no morro da Barão, na zona oeste do Rio, o site Coração & Vida faz um alerta para as doenças sexualmente transmissíveis (DSTs).

O psiquiatra e especialista em transtornos de sexualidade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo Marco Scanavino afirma que não há um único motivo para o comportamento sexual de risco, pois são várias as questões que levam uma pessoa a não usar preservativo, além do abuso de álcool e drogas.

Foto: Shutterstock
Foto: Shutterstock

Uma delas, diz Scanavino, é que algumas pessoas não conseguem ter uma consciência clara das chances de se expor à contaminação por doenças ao fazerem sexo desprotegido, principalmente porque as campanhas sobre a importância do uso da camisinha, apesar de muito boas, costumam se voltar a públicos específicos, como homens homossexuais, por exemplo.

“Quem não acompanha a informação não consegue entender que o risco de adoecer por não usar preservativo continua existindo. Homens heterossexuais e bissexuais também acabaram tendo um aumento grande de contaminação nos últimos anos, mas as campanhas sempre veicularam muito mais o tema voltado para o homem homossexual e isso pode fazer com que parte da população não tenha acesso à informação e continue se expondo.”

O fato de a epidemia estar controlada no Brasil – o país registrou, em 2015, recorde no número de pessoas em tratamento de HIV e Aids, segundo o Ministério da Saúde – também distancia os mais jovens do preservativo, de acordo com o psiquiatra.

Um público específico enfrenta dificuldades quando o assunto é o uso do preservativo masculino: as mulheres. O medo de contrariar o parceiro com o pedido para usarem camisinha no ato sexual é um dos principais motivos que levam as mulheres a fazer sexo sem proteção.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), em todo o mundo, 16 milhões de mulheres vivem com HIV, o que representa metade dos adultos vivendo com o vírus. HIV/Aids é a principal causa de morte entre mulheres em idade reprodutiva em países em desenvolvimento.

“O uso do preservativo masculino está mais no domínio do homem do que da mulher, ao passo que com o anticoncepcional acontece o contrário. A mulher precisa negociar o uso do preservativo  com o parceiro, precisa ter assertividade e nem todas conseguem fazer isso, não se sentem autoconfiantes, têm receio da reação do parceiro, de ser preterida, mal interpretada. É preciso entender que o pedido pelo uso do preservativo tem a ver com a preservação da saúde e não com a falta de confiança”, explica o psiquiatra.

E quem pensa que o risco de contaminação acaba na terceira idade está enganado.

“Hoje, as pessoas vivem mais, tem remédio para ereção e o idoso pode ter vida sexual ativa. O problema é que esses indivíduos não se acostumaram a usar preservativo, isso não fez parte dos hábitos deles no passado. Por isso que é um segmento que precisa ser contemplado nas campanhas sobre sexo seguro.”

HPV

O Papiloma Vírus Humano (HPV) é responsável por 70% dos casos de câncer de colo de útero, sendo a terceira causa de morte de mulheres no Brasil, segundo o Ministério da Saúde.

Apesar de também infectar homens, as mulheres são as maiores vítimas do vírus, pois 32% delas estão infectadas por dois tipos de HPV que levam ao câncer. Aproximadamente 291 milhões de mulheres no mundo são portadoras do HPV, de acordo com dados do Instituto Nacional do Câncer (Inca).

O HPV é transmitido sexualmente e o contágio pode acontecer mesmo que a pessoa contaminada não apresente sintomas.  O vírus normalmente se manifesta na forma de verrugas, quando se manifesta. Estima-se que somente cerca de 5% das pessoas infectadas pelo HPV desenvolverão alguma forma de manifestação, segundo o Inca.

“Na maioria dos casos, o HPV não apresenta sintomas e é eliminado pelo organismo espontaneamente. Em um número menor de indivíduos, pode se replicar e causar o aparecimento de lesões, mesmo após longo período de tempo”, explica o infectologista e acupunturista Marco Broitman, do Hospital do Servidor Público Estadual de São Paulo.

“Quando há lesão aparente, existe maior chance de transmissão, mas o fato de não haver lesões não significa que não há risco. As lesões planas e outras menores, que passam despercebidas a olho nu, também podem ser contagiosas”, ressalta Broitman.

Essas lesões podem ser cancerosas e acometer útero, vagina, pênis, ânus e orofaringe. Como não está só restrito ao colo do útero, o câncer provocado pelo HPV também atinge os homens.

Existem mais de 150 tipos de vírus HPV e pelo menos 13 deles são capazes de causar câncer. No caso do câncer de colo de útero, os tipos 16 e 18 são os mais perigosos.

No mundo todo, acredita-se que aproximadamente 30 milhões de pessoas tenham verrugas ocasionadas por HPV, aproximadamente 10 milhões de mulheres tenham lesões intraepiteliais de alto grau no colo uterino e 500 mil casos de câncer de colo uterino. Esses números provam que nem toda infecção por HPV pode levar ao câncer, mas evidenciam que as chances são elevadas.

“Sabe-se que uma porcentagem menor das mulheres irá desenvolver câncer após infecção pelo vírus, principalmente de colo de útero, o que não diminui a periculosidade dessa infecção. Como a infecção pelo HPV atinge até 10% da população, o número de casos possíveis de câncer é muito alto”, afirma o infectologista.

Com taxas tão alarmantes, as mulheres precisam ficar atentas aos exames periódicos com o ginecologista. O exame preventivo ou “Papanicolau” deve ser realizado regularmente, pois é capaz de detectar precocemente lesões no colo do útero e elevar as chances de tratamento em caso de contaminação por HPV. É importante lembrar também que o sexo com camisinha diminui as chances de infecção pelo vírus.

Vacina

Atualmente, a camisinha ainda é o único meio de prevenir o HPV em adultos. Para os mais jovens, entretanto, há outra chance: a vacinação.

Em 2014, o Ministério da Saúde iniciou uma campanha de vacinação contra o HPV para imunizar meninas de 9 até 13 anos contra quatro tipos do vírus, inclusive os que causam câncer.

A vacina foi intensamente criticada por pesquisadores e pais, pois surgiram dúvidas a respeito dos seus efeitos colaterais.

Em Bertioga, litoral de São Paulo, 11 adolescentes  passaram mal após receberem a segunda dose da vacina contra o HPV em uma escola em 2014. Todas relataram dor de cabeça, tonturas e tremedeiras. Duas das meninas apresentaram sintomas mais graves como falta de sensibilidade nas pernas, nas mãos e dores de coluna.

À época, o governo descartou problemas com o lote de vacinas e até agora ela é considerada segura pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos.

Um estudo publicado na revista “Pediatrics” apontou recentemente que o número de adolescentes com infecção por papilomavírus humano caiu em cerca de 60% em todo o mundo desde a introdução da vacina, em 2006. Hoje, a vacina é dada em 50 países.

A vacina também gerou questionamento sobre quem deveria ser imunizado, se somente as meninas ou também os meninos.

Marco Broitman diz que, como o objetivo do Ministério da Saúde é prevenir o câncer de colo de útero, faz sentido que o público-alvo seja as adolescentes do sexo feminino.

“Estudos comprovam que os meninos passam a ser protegidos indiretamente com a vacinação nas meninas. Nessa fase dos 9 aos 13 anos, geralmente, ainda não se iniciou a vida sexual das meninas, ou seja, ainda não tiveram contato com o vírus, o que torna o momento ideal para a vacinação.”

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

Compartilhe:

Dúvidas?
Envie sua pergunta para o

RESPONDE

acesse

Notícias Relacionadas: