Falar sobre o próprio corpo ainda é tabu para as mulheres

26 de agosto - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Não há como negar: cada fase da vida das mulheres implica em transformações que, a princípio, assustam, causam dúvidas e até mesmo embaraço. A primeira menstruação, por exemplo, chamada de menarca: muitas mulheres são capazes de lembrar claramente, de entrar em pânico achando que a vida iria virar uma vergonha infinita (ou pelos menos durante cinco ou sete dias todos os meses).

A sexualidade na menopausa, os dias de fúria na TPM, a culpa que envolve a masturbação, a falta de desejo e as expectativas em torno do lançamento do “Viagra feminino”: todos esses temas deveriam inspirar uma conversa franca com o ginecologista.

Falar sobre o próprio corpo ainda é tabu para as mulheres
Foto: Shutterstock

Afinal, buscar informações é a chave para as mulheres, cada vez mais, quebrarem os tabus que envolvem seus corpos.

“Viagra feminino”

A primeira droga que promete estimular a libido feminina está próxima de ser aprovada pela FDA, a agência norte-americana reguladora de medicamentos.

A flibanserina já havia sido rejeitada duas vezes, em 2010 e em 2013, por ter mostrado eficácia pouco expressiva em comparação ao placebo, além de provocar efeitos colaterais como sonolência, enjoos e tonturas.

De acordo com o laboratório Sprout Pharmaceuticals, responsável pela fórmula, os estudos foram realizados em mulheres com idade média de 35 anos, em relações estáveis e monogâmicas, que apresentavam baixo desejo sexual.

As que usaram a substância tiveram 4,4 experiências sexuais satisfatórias em um mês. Para quem tomou placebo, a média foi de 3,7, e antes dos testes, esse número era 2,7.

A droga, que age no sistema nervoso central, já começa a despontar como o novo Viagra feminino, embora esse não seja um termo adequado. “O Viagra atua especificamente no tecido erétil, e não no cérebro. Ele promove uma ação hidráulica que possibilita a ereção, mas não induz o desejo”, explica o ginecologista e sexólogo Théo Lerner, colaborador do Ambulatório de Medicina Sexual do Departamento de Ginecologia do Hospital das Clínicas.

Se aprovada nos Estados Unidos, não se sabe quando a novidade chegará ao Brasil. No entanto, a ânsia por um remédio mágico que desperte a libido pode trazer frustrações.

“As mulheres não estão à procura de uma resposta biológica para desempenhar um papel. Elas buscam uma sensação. Por isso é difícil distinguir entre a real eficácia de um medicamento sexual e as expectativas em relação ao seu efeito”, considera.

De fato, o desejo feminino é complexo e depende de muitos outros estímulos – não disponíveis em uma cartela de pílulas.

TPM: sai de perto!

Cerca de 80% das mulheres sofrem com os sintomas provocados pelo sobe-e-desce dos hormônios nos dias que antecedem a menstruação. Dor nas mamas, inchaço por retenção de líquidos, cansaço, enxaqueca e dor muscular são queixas comuns. E pela baixa da serotonina, um neurotransmissor relacionado ao humor e à sensação de bem-estar, muitas mulheres têm de lidar com momentos de agressividade, irritação, ansiedade, melancolia, choro fácil, insônia e até mesmo compulsão por doces e carboidratos.

“A visão da medicina sobre os efeitos da tensão pré-menstrual mudou bastante nas últimas décadas. Alguns sintomas ficam tão acentuados que podem prejudicar a mulher em sua rotina de trabalho e nas relações pessoais.”

O tratamento será sempre individualizado, mas, em geral, inclui mudanças na alimentação e reforça a atividade física.

“Mulheres que se exercitam regularmente lidam melhor com os incômodos da TPM. A prática de exercícios libera endorfina, que age como um analgésico natural, aumenta a disposição e ajuda a controlar a ansiedade”, acrescenta.

Se necessário, o ginecologista recorre ao uso de medicamentos: pílulas anticoncepcionais, anti-inflamatórios, analgésicos, diuréticos ou antidepressivos. Em casos severos, é possível suspender a menstruação com métodos contraceptivos – DIU, anticoncepcionais de uso contínuo, entre outros.

Masturbação sem culpa

Quando o assunto é sexualidade, a masturbação ainda é um dos maiores tabus femininos. Especialmente para quem tem um parceiro.

“Nesse caso, é comum a mulher considerar apenas o coito como forma de satisfação sexual. Como se a masturbação fosse algo errado e desnecessário, ela limita suas opções de prazer”, explica Théo.

Quanto mais a mulher conhecer seu corpo, mais facilidade ela terá para chegar ao orgasmo – sozinha ou acompanhada. O ato de se tocar, de descobrir os pontos mais sensíveis do corpo, a forma de estimulá-los e se excitar com isso é absolutamente natural e saudável.

“Cada pessoa deve encontrar a melhor maneira de se dar prazer. Não há padrões nem regras; deve-se apenas respeitar o próprio corpo e seguir o seu desejo”, ressalta.

Além disso, durante o orgasmo, o corpo libera substâncias como a endorfina e a ocitocina, que regulam o humor e aumentam a sensação de bem-estar e relaxamento.

Menstruação: encare com naturalidade

É uma resposta fisiológica: toda vez que a mulher ovula e não engravida, ela menstrua – o que acontece em ciclos de 28 dias, em média.

O sangramento indica o funcionamento normal do corpo feminino; e sua ausência, quando não é indicativa de uma gestação ou se a menstruação não foi bloqueada intencionalmente, pode estar associada a alguma patologia que só o ginecologista poderá diagnosticar.

Dores, fluxo muito intenso e prolongado, ciclos irregulares são aspectos a se investigar. Muitas mulheres, porém, ainda enxergam a menstruação como um castigo, a ponto de mudarem suas rotinas nesse período: deixam de praticar esportes e, constrangidas com o odor e a presença do sangue, evitam manter relações sexuais com seus parceiros, ainda que sintam vontade de transar.

Nesses dias, recomenda-se usar preservativo, pois há maiores chances de contrair doenças sexuais. Tomando esse cuidado, nada impede aproveitar os momentos de intimidade. Inclusive, algumas mulheres têm a libido aumentada e sentem mais prazer durante a menstruação.

Outra questão controversa é o uso do coletor menstrual, mais comum na Europa e nos Estados Unidos e quase desconhecido por aqui. Trata-se de um copinho de silicone flexível, colocado na entrada da vagina para recolher o sangue.

“Esse dispositivo ainda não conquistou tantas adeptas. Como é reutilizável, deve ser higienizado e recolocado algumas vezes, ao longo do dia – um procedimento que não agrada a todas as mulheres”, explica.

De qualquer forma, o coletor menstrual é uma alternativa para quem tem irritações, assaduras ou reações alérgicas ao absorvente, e pode ser usado durante atividades físicas.

Menopausa não é doença

Os temores que assombravam o imaginário feminino nesse estágio natural da vida são fantasmas do passado – quando a chegada da menopausa decretava o fim da vida sexual da mulher.

Atualmente, as opções terapêuticas dão conta de minimizar os desconfortos tão comuns nessa fase de transição que ocorre, geralmente, entre 45 e 55 anos.

A menopausa encerra o período reprodutivo da mulher, que deixa de ovular e menstruar. A queda dos níveis hormonais, em especial do estrogênio e da progesterona, pode desencadear uma série de efeitos: ondas de calor, insônia, diminuição da libido, ressecamento vaginal, alterações de humor, entre outros.

Enquanto algumas mulheres são praticamente assintomáticas, outras passam por fortes mudanças nessa fase. Somente o ginecologista pode orientar sobre o melhor tratamento e a necessidade da terapia de reposição hormonal.

“Quando bem recomendada, melhora a qualidade de vida das pacientes, sobretudo no que se refere ao alívio das ondas de calor e ao aumento da elasticidade e lubrificação da vagina”, explica o sexólogo.

A terapia hormonal também contribui para diminuir os riscos da osteoporose. Porém, não são todas as mulheres que recebem o sinal verde para repor hormônios na menopausa.

“É preciso avaliar fatores individuais de risco, como predisposição ao câncer de mama, trombose, entre outras doenças. Além disso, a reposição tem um período muito específico para ser iniciada com segurança: no intervalo de um a dois anos após a última menstruação”, explica.

Menopausa não é doença, mas, sim, um evento natural. Praticar uma atividade física regular, adotar uma dieta balanceada, manter controle sobre o peso, evitar cigarro e bebidas alcoólicas são atitudes que previnem os desconfortos durante essa nova fase na vida da mulher.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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