Febre? Não esquente a cabeça, aprenda a lidar

28 de setembro - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

A febre entrou em campo. Sinal de alarme para muita gente que já decreta, na elevação da temperatura, que aquele mal-estar ficou sério. Mas a febre, síndrome tão preocupante quanto comum em diversas infecções virais e bacterianas, tem uma vasta gama de motivos para surgir.

O organismo mantém sua temperatura por meio de um centro termorregulador localizado no hipotálamo. Esse centro busca o equilíbrio entre produção e perda de calor pelo organismo, mantendo a temperatura interna em torno de 37 graus. Por ação de agentes infecciosos, as células são induzidas a produzir substâncias que atuam no centro termorregulador, elevando o nível e tendo como resultado o surgimento da febre.

Febre? Não esquente a cabeça, aprenda a lidar
Foto: Shutterstock

A febre alta pode se associar a outros sintomas que causam desconforto, como dor muscular, irritabilidade e perda de apetite. Mas estudos médicos também dão conta de que temperaturas elevadas estão associadas ao estímulo da atividade imunitária e à redução da reprodução tanto de vírus como de bactérias. Ou seja: a febre indica que o corpo está “lutando” para se livrar do mal que o atingiu.

As dúvidas comuns que afligem quem precisa lidar com a febre podem ser desfeitas com a ajuda do médico. Em entrevista ao Coração & Vida, a pediatra do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas da FMUSP, dra. Ana Cristina Tanaka, deu o caminho das pedras para pais que precisam enfrentar, especialmente nessa época do ano, as febres que a criançada pode apresentar.

Coração & Vida: A febre é um indicativo de que algo não vai bem no organismo. Mas ela surge só em doenças leves ou também algo mais sério?

A maioria dos quadros febris é causada por doenças infecciosas comuns e de curta duração. No entanto, a febre pode também ser um dos sintomas de outras doenças mais graves, portanto é muito importante fazer o diagnóstico diferencial para a orientação adequada do tratamento a ser realizado.

C&V: Qual a forma mais correta de medir a temperatura?

A forma mais correta de se medir a temperatura é, claro, usando um termômetro – o tradicional, de vidro, com uma coluna de mercúrio dentro. Existem também os termômetros digitais, que são eficientes e usados como o termômetro de mercúrio, medindo a temperatura embaixo do braço. Tanto um como o outro necessita que a pontinha metálica do termômetro esteja em contato direto com a pele da axila. O tempo de espera é de quatro a cinco minutos, segurando o braço (no caso da criança) para que o termômetro não escape.

No caso de termômetros digitais, é importante ler as instruções para saber se vão apitar quando terminarem de medir a temperatura ou durante sua medição. Devemos lembrar que a medida de um termômetro nunca ultrapassa a temperatura real. Portanto, a leitura não será errada se o termômetro ficar mais tempo embaixo do braço. Agora, se o termômetro ficar com tempo menor, a temperatura indicada será menor que a verdadeira.

Existem também termômetros digitais que fazem a medição imediata pelo canal do ouvido e aqueles que fazem através da pele da testa. Há até termômetros em forma de chupeta. A rapidez e a praticidade deles são pontos positivos, mas a temperatura medida é um pouco mais elevada que a axila e pode confundir um pouco os pais.

O termômetro retal pode ser usado em crianças, mas esse método deve ser usado apenas por pessoas experientes pelo risco de lesão da mucosa retal.

C&V: Como proceder em cada faixa de temperatura? Febre baixa e febre alta devem ser tratadas diferentemente?

Inicialmente, o tratamento tanto para a febre baixa quanto para a febre alta é igual. É importante consultar o médico para saber qual o antitérmico e a dose certa – especialmente no caso das crianças, pois o peso precisa sempre ser levado em consideração.

Devemos, porém, nos lembrar que o aumento da temperatura faz parte do processo natural de combate à infecção. Ou seja: a febre, por si só, não é necessariamente prejudicial a um bebê, nem sua intensidade é indicativa da gravidade da doença.

Em todos os quadros com febre, é importante medir a temperatura pelo menos três ou quatro vezes por dia e anotar os valores e horários em que a febre foi medida. Isso ajuda a identificar as doenças que estão causando a febre.

Se a criança com febre está em bom estado geral, pode-se administrar um antitérmico indicado pelo pediatra e esperar a febre baixar. O quadro febril fica mais grave quando aparecem as convulsões. Nessas horas, o ideal é manter a calma e levar a criança ao hospital.

Durante a febre, deve-se manter a criança vestida com roupas adequadas para a temperatura ambiente (ou seja, não agasalhar nem de mais, nem de menos), manter a criança hidratada oferecendo água, sucos de frutas, leite, sopas leves, de acordo com a faixa etária e com a aceitação.

O banho morno é uma boa opção se a criança ainda estiver febril e já foi medicada com um antitérmico pelo menos 40 minutos antes. O banho precisa ser confortável para a criança. Não use álcool para baixar a febre. É melhor baixar a temperatura aos poucos que muito rápido.

C&V: Como manter o conforto do doente nesse momento?

Para as crianças, os pais podem fazer compressas frias no tronco e membros com uma toalha úmida ou com uma bolsa térmica em temperatura mais fria; manter a criança em repouso para evitar sobrecarregar o organismo (não é preciso obrigar a criança a dormir, apenas descansar); dar um banho morno para conforto e diminuição da febre; vestir a criança com roupas leves e confortáveis e, de preferência, com tecidos de algodão, pois esse tecido costuma ventilar melhor e absorve o suor, diminuindo a sensação de desconforto do paciente, sobretudo durante o sono; manter a criança hidratada oferecendo água e líquidos em geral com frequência, verificando se a diurese está adequada; oferecer uma dieta leve e de fácil digestão, sobretudo em crianças mais debilitadas, pois uma alimentação mais equilibrada pode ser determinante do curso da doença.

C&V: Só remédios podem ajudar? Ou há alternativas?

Além dos remédios, os banhos mornos podem ser utilizados, conforme mencionado antes. Muitas vezes, antes do intervalo recomendado entre uma dose e outra de remédio, a temperatura começa a subir novamente e, nesse caso, os pais podem dar um outro tipo de medicamento (sempre com orientação do pediatra).

Porém, se a criança tiver menos de 3 meses de idade e estiver com a temperatura acima de 37,8 graus, é melhor desagasalhá-la um pouco, esperar meia hora e medir novamente a temperatura. Se continuar acima de 37,8 graus, é melhor procurar o pediatra ou um serviço de saúde o quanto antes. Nos bebês com menos de 1 mês de idade, qualquer febre deve ser avaliada imediatamente pelo pediatra para descartar a possibilidade de uma doença ou infecção mais grave.

Os banhos mornos e as compressas frias podem ser utilizados desde que ofereça conforto para a criança febril. Porém nada de “choque térmico”, pois se a criança sentir frio, o próprio corpo vai tentar produzir mais calor levando ao aparecimento de calafrios, aumentado ainda mais o desconforto da criança.

C&V: Quando é a hora de ir ao médico?

A febre pode ser o sinal de alerta de uma doença que precisa ser tratada com rapidez. Por isso, é importante que os pais procurem assistência médica nos seguintes casos:

a)      Temperatura acima de 37,5º C e abaixo de 36º em bebês com menos de três meses de idade e superior a 39º C em bebês com mais de três meses, ou se a febre alta ou baixa vier acompanhada de choro persistente e irritabilidade extrema. Os bebês muito jovens não conseguem regular a temperatura corporal adequadamente e, quando estão doentes, podem ficar frios em vez de quentes com febre.

b)      Febre com duração superior a um dia e que venha acompanhada de dor de cabeça, irritabilidade, sonolência, dificuldade para falar, apatia (sintomas sugestivos de meningite).

c)      Febre acompanhada de dor de cabeça forte e persistente, sensibilidade excessiva à luz, dor e/ou inchaço na garganta que impede a deglutição, erupção ou vermelhidão na pele, nuca endurecida e dolorosa ao curvar a cabeça, confusão mental, vômitos repetitivos, dificuldade para respirar ou dor no peito, irritabilidade ou apatia ou sonolência, dores abdominais, dor ao urinar ou micção frequente em pequena quantidade, fraqueza muscular ou alterações sensoriais ou quaisquer outros sinais ou sintomas inexplicáveis.

C&V: Febre na infância difere em alguma coisa da febre em adultos com relação aos cuidados?

Para um adulto, a febre pode ser desconfortável, mas geralmente não é um motivo de preocupação. Mas para bebês e crianças, uma temperatura ligeiramente elevada pode indicar infecção mais séria.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

Compartilhe:

Dúvidas?
Envie sua pergunta para o

RESPONDE

acesse

Notícias Relacionadas: