Hebiatria e a fase tão especial que é adolescer

11 de julho - 2016
Por: Equipe Coração & Vida

Chama-se hebiatria. E, como especialidade médica, não é, nem de longe, tão conhecida quanto a pediatria. Mas deveria ser, já que, enquanto uma acompanha as crianças desde o nascimento, a outra é focada nos adolescentes – e ambas são fases igualmente importantes e muito peculiares da vida, quando o mais indicado seria consultar um médico envolvido com a idade específica.

O nome hebiatria remete à personagem grega Hebe, filha de Zeus e Hera, conhecida como a deusa da juventude. A especialidade que cuida desses jovens, os adolescentes (fase que, segundo a Organização Mundial da Saúde, vai dos 10 aos 20 anos de idade), começou a ser algo mais comum nos Estados Unidos e na Europa a partir dos anos 1950.

Hoje, ainda vem ganhando repercussão – muitas vezes, por recomendação dos próprios pediatras, que veem a importância de meninas e meninos, já saídos da primeira infância, passarem aos cuidados de um especialista em hebiatria.

Mas quando é hora de levar as crianças ao hebiatra? Falamos dessas e de outras questões com Antônio Foronda, médico pediatra e cardiologista infantil do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo (e um defensor da hebiatria).

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  • Por que a necessidade de um médico para os adolescentes?

“O hebiatra faz a continuação do tratamento daquela criança que o pediatra sempre acompanhou; mas ele tem maior sensibilidade para certas questões específicas dos jovens”, define o doutor Foronda. Enquanto os pediatras cuidam, na essência, do estado físico dos pequenos (como o ganho de peso, vacinação e alimentação desde o berço), os hebiatras enfocam essas questões e muitas outras voltadas para os adolescentes – e eles estão mais precoces hoje em dia, daí estar atento à hora de deixar o consultório da pediatria e bater em outra porta. “As meninas, hoje, começam a sentir modificações no corpo aos 9, 10 anos – bem mais cedo que antigamente. Os pais ficam desesperados. E é aí que o hebiatra pode levantar questões importantes dessa ‘ex-criança’, do social e hormonal até o modo como a família lidará com os novos modos de cuidar desse adolescente”, diz o médico.

  • O que abrange a consulta de um hebiatra?

É certo que os adolescentes têm outras necessidades, diferente das crianças pequenas. Lidar com a liberdade e a independência, por exemplo. Sim, essa é uma questão tratada com o hebiatra também. “A alimentação, por exemplo, muda bastante: eles querem provar comidas pesadas e típicas do paladar jovem. Mais além: eles começam a sentir a necessidade de provar alguns vícios – e, por influência de outros, às vezes isso toca nas drogas. Um hebiatra encara esse tipo de assunto e pode ajudar as famílias a entender e resolver”, explica o doutor Foronda.
A consulta em si, no entanto, pode acontecer particularmente com o adolescente. “Alguns já não querem a presença dos pais [até por essa necessidade de independência]. As mães, muitas vezes mais ciosas, podem aguardar fora e serem chamadas só se for preciso. Os hebiatras têm mesmo essa relação mais amiga e menos maternal/paternal que os pediatras representam.”

  • O hebiatra trata também questões como vacinação, mais típicas da pediatria?

A ideia é que a hebiatria seja uma especialidade de continuação dos tratamentos da pediatria – portanto aborda, sim, a questão de vacinação. Mas foca mais nos reforços e nas doses sazonais, como recomendações de vacina contra o HPV, a H1N1 e outras gripes e a febre amarela quando há uma viagem em vista, por exemplo. Os aspectos físicos do adolescente, como um todo, são ainda observados, ainda que de outra maneira. Sobre peso e altura, uma preocupação típica dos pais, há orientação sobre as fases, o crescimento hormonal e outros quadros a avaliar.

  • Existem sinais ou situações que mostrem que já é hora de a criança passar do pediatra para um hebiatra?

Com relação às meninas, a chegada da primeira menstruação costuma ser o marco para essa “passagem”. “Quando surgem os pelos pubianos, elas já podem se consultar com um hebiatra, já que a maioria das garotas pode começar a sentir vergonha do antigo pediatra”, diz o doutor Antônio. Já os meninos costumam chegar ao hebiatra quando eles ou os pais acham que não está havendo ganho de estatura ou quando surgem hábitos como o tabagismo, em que a opinião de um médico virá bem a calhar.

  • Quais as vantagens de passar aos cuidados de um hebiatra?

O atendimento específico e mais focado pode começar a avaliar aspectos da vida do adolescente que um pediatra não se preocupa tanto. Os exames de idade óssea e relacionados com a cardiologia são bons exemplos. É bom que os jovens sejam avaliados preventivamente – e nessas análises podem surgir boas informações sobre arritmias e hipertensão (que muitas vezes são sequer cogitadas pelas famílias). “É interessante avaliar cada adolescente e seu histórico. Questões cardíacas ou renais, por exemplo, podem vir à tona – e são muito mais facilmente tratadas quando notadas mais cedo”, diz o médico. Um hebiatra também pode verificar o surgimento de doenças como o diabetes ou a obesidade. “E podemos também perceber, algumas vezes, que o coração daquele jovem só está mesmo é apaixonado”, diverte-se o doutor Antônio. O médico dos adolescentes desvenda mesmo muitos segredos.

Vale ressaltar que a hebiatria é uma especialização da pediatria, ou seja, o médico precisa primeiro ser um pediatra. A especialidade existe desde 1974, mas só foi reconhecida pela AMB (Associação Médica Brasileira) em 1998. Ainda são poucos os cursos de medicina que oferecem essa formação.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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