Implantes emitem impulsos elétricos que podem ajudar no controle da obesidade

01 de julho - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Com crescimento a olhos vistos nos últimos anos, a indústria de cuidados de saúde ainda busca se adaptar ao potencial das tecnologias digitais, que cada vez mais oferecem serviços e tratamentos inovadores aos pacientes de diversos setores.

A também crescente digitalização da área médico-hospitalar mostra que a utilização de ferramentas mobile e online, wearables, sensores remotos, transmissão de dados em tempo real, robótica e nanotecnologia, além de plataformas de informação e apoio aos pacientes, irá desempenhar um papel fundamental também para diminuir as lacunas entre os provedores e os pacientes.
saúdedigitalUm exemplo disso é que os aplicativos e dispositivos eletrônicos voltados à prática de fitness tornaram-se imensamente populares, mas a tecnologia “vestível” está ficando mais avançada – e muito mais útil. Uma prova disso são os eletrocêuticos, equipamentos que permitem uma implantação mais profunda e permanente de microchips que buscam ser uma alternativa para conter o avanço de doenças crônicas, tais como obesidade, enxaquecas, epilepsia e mal de Parkinson.

Acredita-se que nos próximos anos diversos eletrocêuticos irão surgir ajudando milhões de pessoas em todo o mundo.

Mas não só pessoas. Os pequenos dispositivos implantáveis – normalmente do tamanho de um grão de arroz – costumam ser ligados a nervos periféricos para modular sinais neurais e podem ser usados também no campo animal.

Segundo Jonatas Pavei, diretor comercial da InPulse, que desenvolve soluções de alto padrão tecnológico para as áreas médica e veterinária., “o setor [veterinário] tem crescido constantemente, com um acumulado de 64% nos últimos quatro anos”.

Porém, os produtos da linha médica consomem mais investimentos devido a sua maior complexidade de desenvolvimento. “Em torno de 80% dos investimentos estão focados para produtos humanos”, completa Pavei.

No tratamento de doenças em pessoas, de acordo com o diretor comercial, o principal foco dos aparelhos é a estimulação de redes neuronais, células especializadas ou neurônios com o objetivo de realizar uma intervenção pontual e alterar os impulsos elétricos por meio de tratamento médico.

A intervenção, que pode ser chamada de neuromodulação, altera a informação dos potencias de ação das células a fim de produzir um efeito desejado. “Pode-se aumentar a produção de hormônios relacionados à saciedade para o tratamento da obesidade”, exemplifica.

Segundo Pavei,– que será um dos palestrantes do Fórum de Saúde Digital 2015, que acontece dia 2 de julho, em São Paulo –, a InPulse foi fundada com o objetivo de desenvolver equipamentos médicos implantáveis para as mais diversas aplicações, sendo o primeiro foco o eletroestimulador gástrico para o tratamento da obesidade.

Ele explica que “as doenças, crônicas de maneira geral, têm sido as maiores fontes de gastos relacionados à saúde”.

Dados do Ministério da Saúde revelam que, em 2013, o SUS gastou R$ 488 milhões com o tratamento de doenças associadas à obesidade.

Outros dados da Pasta, de abril de 2015, apontam que o índice de brasileiros acima do peso é de 52,5% e destes, 17,9% são obesos, fatia que se manteve estável nos últimos anos. Em comparação com os países integrantes do Brics – nações emergentes consideradas subdesenvolvidas, o Brasil fica em terceiro lugar no ranking de obesidade – atrás da África do Sul (65,4%) e Rússia (59,8%). A China tem um índice de 25% da população acima do peso, e a Índia, 11%.

A respeito do combate a doenças, o uso de eletrocêuticos pode se tornar uma excelente alternativa para conter o avanço do quadro.  Mas não é apenas no combate à obesidade que os dispositivos já se mostram disponíveis: existem hoje linhas de pesquisas para as mais diversas aplicações. Isso inclui tratamentos com eletrocêuticos para epilepsia, depressão, mal de Alzheimer, dependência química, controle de pressão sanguínea e até aumento do poder cognitivo.

Uma das questões que pairam sobre o tema é se os pequenos aparelhos poderão substituir os medicamentos. Em resposta, Pavei afirma que uma das empresas que mais está investindo em eletrocêuticos é justamente uma farmacêutica, a GlaxoSmithKline.

“Portanto, mesmo que esses produtos venham a ser concorrentes dos farmacêuticos, as empresas do setor já estão se adiantando e investindo nessa nova possibilidade de tratamento”, complementa o diretor.

O desenvolvimento dos eletrocêuticos ainda está no começo, com fatores como custos das técnicas envolvidas, estudos de material biocompatível e testes pré-clínicos e clínicos sendo consideravelmente grandes para qualquer pequena ou média empresa.

Mesmo com as novas alternativas, o acompanhamento médico e a medicina tradicional ainda são indispensáveis. Para quem possui um quadro de sobrepeso ou obesidade, é necessário procurar um profissional especializado, como um nutricionista, além de um cardiologista, que podem recomendar um tratamento personalizado.

“Acredito que o futuro dos eletrocêuticos é atender pacientes que não conseguem obter um tratamento eficaz com fármacos nem com intervenções cirúrgicas, até se tornar a primeira opção de tratamento”, finaliza Pavei.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

Compartilhe:

Dúvidas?
Envie sua pergunta para o

RESPONDE

acesse

Notícias Relacionadas: