Infecções por fungos são uma grave questão nos hospitais
Em épocas passadas, os fungos eram considerados, dentro de clínicas e hospitais, apenas como agentes contaminantes. Mas eles passaram a ter papéis revistos nas últimas décadas – e a ser caracterizados como agentes oportunistas, sendo responsáveis por surtos de infecções e a causa de infecções com alto risco de morte.
Na maioria dos casos, porém, existe uma grande dificuldade de os especialistas fazerem um diagnóstico precoce e seguro desse tipo de infecção – e, consequentemente, de iniciar uma terapia rápida e eficiente (principalmente em pacientes com baixa imunidade, como é o caso de tantos internados em hospitais).
Há 30 ou 40 anos, segundo relatos dos sistemas de saúde, a infecção generalizada pelas chamadas bactérias gram-negativas era a principal preocupação entre as infecções hospitalares, particularmente sobre Staphylococcus e Enterococcus, que passaram a ser o principal foco de atenção.
No entanto, os avanços da medicina contemporânea, ao longo dos últimos anos, contribuíram para aumentar a incidência de infecções fúngicas invasivas nos hospitais.
Isso mesmo: para prolongar a vida de pacientes, procedimentos cirúrgicos bastante complexos, procedimentos invasivos e terapia antibiótica prolongada vêm sendo alguns dos fatores que contribuem para o aumento alarmante dessas infecções por fungos (especialmente em UTIs), conforme estudos na área.
Atualmente, esses micro-organismos ocupam entre o terceiro ou quarto lugar como principal causa de infecção hospitalar de acordo com dados colhidos pelo Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo.
De acordo com o centro de análises, entre os pacientes hospitalizados com maior risco para aquisição de infecções fúngicas estão os imunodeprimidos por quimioterapia, portadores de tumores sólidos ou câncer hematológico, recebedores de transplantes, pessoas em uso prolongado de corticoides ou outros imunossupressores, HIV positivos, aqueles submetidos à intervenção cirúrgica gastrointestinal ou pancreatite grave, queimados, pessoas com doenças inflamatórias crônicas autoimunes e bebês prematuros.
O problema fica ainda mais grave quando se leva em conta que os grupos de micro-organismos causadores de infecções invasivas por fungos em hospitais vêm aumentando progressivamente, como Trichosporon spp., Saccharomyces spp. e Rhodotorula spp..
Infecções por essas e outros fungos correspondem, na atualidade, a cerca de 80% das doenças do tipo documentadas em centros de saúde.
Algumas leveduras integram a microbiota normal do corpo humano, sendo encontradas colonizando pele e mucosas oral, intestinal e vaginal – mas condutas inadequadas, como controle da fonte de infecções feitos de modo incorreto, são determinantes para o aumento do problema.
“A micologia se desenvolveu como um campo da ciência que deve exigir a atenção de todos os profissionais que estão envolvidos com pacientes hospitalizados”, lembra um estudo recente de uma equipe de especialistas ligadas ao Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Botucatu (SP).
“Assim, é necessário que profissionais da saúde estejam conscientes dos problemas que as infecções hospitalares, principalmente fúngicas, podem ocasionar ao paciente debilitado”, completa a pesquisa.
A conclusão do artigo é que o mais importante seja a identificação do agente causador da infecção, a compreensão dos tipos de manifestações clínicas que podem acontecer, os ambientes nos quais esses micro-organismos sobrevivem, para, assim, planejar sobre novas condutas e levar melhor assistência aos pacientes.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo