Internação em UTI pode estressar paciente e família

11 de setembro - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

A situação é traumática: o paciente está com a saúde muito debilitada ou passa por um pós-operatório complicado e precisa ficar internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital. O doente e a família se desesperam com temores como o da morte ou o de não despertar da anestesia, por exemplo.

Mas, afinal, que características levam o paciente a ter esse tipo de reação?

Internação em UTI pode estressar paciente e família
Foto: Shutterstock

“Se a internação vai causar um trauma ou vai ser motivo de alívio e melhora na qualidade de vida do paciente, depende de uma série de fatores, entre eles do sucesso na cirurgia e das intercorrências no pós-operatório, do tempo de internação hospitalar, mas, especialmente, da maneira como cada paciente reage ao estresse, da estrutura psicológica de cada pessoa”, explica a psicóloga Maria Alice Fontes, autora do estudo “Estressores em UTI: percepção do paciente, familiares e equipe de saúde”.

No levantamento, a psicóloga identificou quais eram exatamente os fatores que causam estresse nas internações em UTI, que incluem dores, dificuldades para dormir e problemas com a respiração por aparelhos.

Os problemas afetam o paciente, os familiares e as equipes de saúde em diferentes escalas. Ao todo, 50 pessoas de cada grupo foram entrevistadas durante a pesquisa, que levou em conta os pacientes internados na UTI do Hospital Albert Einstein, em São Paulo.

De acordo com Maria Alice, quando ocorre uma situação de ameaça à vida, sem a devida capacidade psicológica de enfrentamento, uma reação traumática pode se instalar e causar o chamado Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT).

O TEPT é um distúrbio de ansiedade que afeta pessoas expostas a eventos traumáticos que envolvam morte e ferimento.

No caso da cirurgia, segundo Maria Alice, os principais fatores de estresse são a dor; a falta de informações sobre o diagnóstico e a doença; os procedimentos médicos; o temor de não despertar da anestesia; as consequências da cirurgia; a perda da autonomia; e a aproximação da morte.

Vários estudos indicam que os familiares podem sofrer o impacto psicológico decorrente da internação hospitalar, mais intensamente até que o próprio paciente.

A psicóloga diz que os familiares nestas condições podem ser uma fonte adicional de estresse para o doente, que, ao se recuperar de sua condição médica, encontra um familiar fragilizado e sem condições de dar o apoio psicológico que necessita.

“À medida que se sentem impotentes para ajudar um ente querido, os parentes podem também vivenciar medos e situações traumáticas.”

Porém, Maria Alice ressalta que as cirurgias por si mesmas não causam traumas psicológicos e que as situações traumáticas se instalam de acordo com a capacidade do paciente de enfrentar o estresse.

“Neste sentido, não se pode determinar tempo ou gravidade de situação. Tudo varia de acordo com a resiliência de cada pessoa, ou seja, com a capacidade de enfrentar o estresse e retomar a estabilidade ao seu estado original.”

“Os eventos traumáticos ocorrem à medida que o indivíduo ultrapassa sua capacidade de enfrentar e se adaptar às situações de sobrecarga comuns à vida. Assim, os traumas podem ocorrer quando se esgotam todas as possibilidades de uma pessoa enfrentar os estressores físicos e psicológicos”, finaliza a psicóloga.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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