Março azul-marinho: saiba mais sobre o câncer colorretal
Por Eli Pereira
Este mês é celebrado o março azul-marinho, mês de conscientização e prevenção do câncer colorretal, que afeta mais de 35 mil brasileiros por ano, sendo a segunda causa de câncer na mulher e terceira em homens. A boa notícia é que 70% desse tipo de câncer, que afeta o cólon – que é a parte final do tubo digestório – pode ser evitado com bons hábitos de vida, como boa alimentação, exercícios físicos e abandono do cigarro. Outros 30%, porém, vêm da hereditariedade, e aí o ideal é sempre diagnosticar ainda no início, quando as chances de cura são altas.
De acordo com Ulysses Ribeiro Junior, coordenador cirúrgico do Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (Icesp) e professor associado de cirurgia do aparelho digestivo da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), 70% dos casos de câncer colorretal está associada a um estilo de vida ruim, como sedentarismo, obesidade, consumo de álcool, tabagismo e alimentação pobre em fibras e vegetais.
“A dieta do fast food é muito ruim porque é pobre em fibras e rica em gorduras e carne vermelha. Ela provoca constipação, e com isso as substâncias nocivas ficam mais tempo em contato com o intestino, o que pode desequilibrar a microbiota intestinal e levar a um tumor no futuro”, explica o especialista.
Outro fator que favoreceu o aumento dos casos de câncer foi o envelhecimento da população. “É um câncer que aparece normalmente depois dos 50 anos e, quem teve hábitos ruins durante a vida ou têm doenças inflamatórias do intestino, como retocolite ulcerativa ou doença de Crohn, estão em maior risco”, diz Ribeiro.
O oncologista conta também que até 30% do câncer colorretal é provocado por alterações genéticas herdadas dos pais. Nesse caso, além de manter bons hábitos alimentares e de vida, é preciso também acompanhar mais de perto para detectar precocemente.
Para prevenir, o ideal é reduzir a ingestão de gordura a no máximo 30% das calorias ingeridas no dia, evitar embutidos e maneirar no consumo de carne vermelha, consumindo no máximo 70g por dia.
“Aumentar o consumo de fibras também é importante, principalmente das fibras solúveis, aquelas em que a água consegue penetrar e aumentar de tamanho e estão presentes no trigo integral, farelo de aveia, mamão, melão, melancia, laranja e outras frutas”, aconselha o médico. Essa medida melhorará o trânsito intestinal, impedindo a constipação.
Por último, Ribeiro aconselha caprichar no consumo de verduras e legumes, parar de fumar, não exagerar na bebida alcoólica, e, claro, praticar atividade física e manter-se no peso ideal.
Detecção precoce é fundamental
A gênese do câncer colorretal é silenciosa. “Os tumores, na grande maioria, nascem a partir de pólipos, que são como verrugas que nascem no interior do intestino. Se fazemos um rastreamento disso, principalmente em pessoas acima dos 50 anos, podemos retirar essa lesão e impedir que ela se transforme em câncer”, explica o oncologista do Icesp.
O primeiro exame necessário para investigar como está a saúde lá dentro do intestino é o teste de sangue oculto nas fezes. “Quando os pólipos que podem se transformar em tumores estão maiores que um centímetro, eles começam a sangrar. Se identificamos sangue oculto nas fezes, passamos para uma próxima fase, que é a indicação do exame de colonoscopia para avaliar melhor”, detalha Ribeiro.
Se os pólipos forem detectados, o tratamento já é feito, evitando o surgimento do câncer. Quem, porém, tem indivíduos na família que tiveram câncer colorretal tem de ficar mais atento sobre quando começar esses exames de detecção precoce. Em muitos casos, a pesquisa de sangue oculto nas fezes começa anos antes dos 50.
A detecção precoce é importante porque, para um pólipo crescer e virar um tumor, é necessário em média de três a cinco anos, explica o oncologista. “É o intervalo de tempo que precisamos fazer o teste do sangue oculto, a colonoscopia, detectar a alteração e intervir”.
No caso de quem tem casos na família de câncer colorretal, esse intervalo de três a cinco anos pode ser encurtado com a orientação médica, pois as lesões podem crescer com mais rapidez.
Detecção precoce é falha no Brasil
De acordo com o coordenador cirúrgico do Icesp, cerca de 50% dos casos de câncer colorretal que chegam à instituição já estão em estado avançado e com metástase. Quanto mais o tumor se infiltra na parede do intestino, maior a chance de a doença se espalhar para o fígado, peritônio, pulmão, entre outros locais.
“Estamos falhando na detecção precoce”, preocupa-se o médico. “Se pudéssemos oferecer o teste de sangue oculto a todos acima de 50 anos, o benefício seria muito grande. Esse cálculo inclusive foi comprovado em vários trabalhos internacionais”, detalha Ribeiro.
Com isso, o alto custo de quimioterapias, radioterapias e cirurgias poderiam ser evitados, além de proporcionar maior qualidade de vida e conscientização para quem está em risco ou desenvolvendo um tumor.
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Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo