Maternidade tardia

11 de maio - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

Tradicionalmente comemorado no segundo domingo do mês de maio, o Dia das Mães costuma gerar diversas emoções em mulheres de todo o país: as alegrias e medos das “mães de primeira viagem”, a satisfação daquelas que já enxergam os filhos chegarem à adolescência ou idade adulta, e as incertezas daquelas que não desejam (ou não podem) engravidar no momento, mas também não estão certas quanto aos perigos e aos mitos da gravidez tardia.

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De uma forma geral, a brasileira tem esperado mais para engravidar. Dados do estudo Saúde Brasil, divulgado em outubro de 2014, apontaram que as mulheres têm cada vez mais esperado ao menos até os 30 anos para engravidar pela primeira vez.

O percentual de mães na faixa etária de 30 anos passou de 22,5% em 2000 para 30,2% em 2012, enquanto o número de mulheres com menos de 19 anos com filhos caiu de 23,5% para 19,3% no mesmo período.

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Dados do Ministério da Saúde mostram que o número de mulheres que foram mães após os 40 anos subiu 49,5% em 20 anos, passando de 51.603 em 1995 para 77.138 em 2015.

Como a gravidez envolve naturalmente uma série de dúvidas e inquietações, Coração & Vida consultou o ginecologista e mastologista Eduardo Vieira da Motta, do Hospital Sírio-Libanês, para entender melhor os reais riscos de uma gestação em idades mais avançadas.

De início, Motta explica que a fertilidade em si não mudou com o tempo. À medida que a mulher envelhece, sua fertilidade vai se reduzindo. É como se, ao longo dos anos, a mulher “gastasse” naturalmente os óvulos que recebeu durante a vida. Trata-se de um evento contínuo, uma curva de fertilidade que anualmente vai caindo.

“Isso valia há 100 anos e vale hoje. Não há nada que você faça que possa alterar positivamente essa curva. Não é algo que diz respeito a tomar vitaminas, a comer melhor ou pior. É assim. Acontece dessa forma”, explica o especialista.

A mulher pode contribuir, no entanto, para piorar essa curva. Hábitos como fumar ou beber em excesso, bem como o sedentarismo, podem afetar significativamente a fertilidade da mulher ao longo dos anos.

“Piorar é possível. Melhorar, infelizmente, não. Existe uma perspectiva bem incipiente no sentido de tentar preservar isso [a fertilidade], mas é algo que está começando e ainda não há aplicabilidade clínica”, completa.

Motta explica que a mulher deixará de ter condições de engravidar quando ingressar na menopausa, deixando de produzir óvulos. A diminuição da fertilidade, entretanto, ocorre de forma mais acentuada a partir dos 40 anos, em média. Não significa que a mulher não consiga engravidar aos 45 anos, por exemplo, mas é preciso levar alguns pontos em consideração.

“Com o passar do tempo, não só fica mais difícil engravidar como aumentam algumas complicações: diabetes durante a gravidez, pressão alta durante a gravidez e até mesmo o risco de parto prematuro. Atualmente, temos instrumentos para fazer diagnósticos mais precoces, medicamentos que ajudam essas mulheres, mas o evento [da diminuição da fertilidade] acontece do mesmo jeito que ocorria há 100 anos”, afirma.

É preciso pontuar, no entanto, que não há gravidez com risco zero, independentemente da idade da gestante. Com o tempo, entretanto, alguns riscos tornam-se maiores, como os citados anteriormente pelo especialista.

“Além disso, com a idade da mulher, a chance de ocorrerem algumas doenças genéticas no bebê aumenta. A mais conhecida é a Síndrome de Down. Uma mulher de 20 anos que engravida tem determinada chance de ter um bebê com Síndrome de Down. Uma gestante de 40 anos tem uma chance muito maior de dar à luz um bebê com Síndrome de Down”, explica.

Engana-se ainda quem acredita que a menina é altamente fértil já no momento de sua primeira menstruação. A fertilidade da menina melhora constantemente até os 17, 18 anos, quando já é possível considerá-la uma mulher madura quanto à possibilidade de engravidar. O nível de fertilidade mantém-se até os 20, 22 anos, quando começa a cair. Essa queda mais acentuada tem início aos 25 anos, em média, mas torna-se mais evidente por volta dos 40, conforme exposto anteriormente.

E o que fazer se você tem mais de 35 anos e deseja engravidar? Em primeiro lugar, de acordo com o médico, é necessário buscar uma avaliação clínica a respeito de sua condição de saúde. Um dos objetivos é verificar se a mulher apresenta alguma das condições de risco citadas anteriormente (diabetes, pressão alta, tabagismo, excesso de álcool).

“Qualquer mulher, em qualquer idade, especialmente as mais velhas, devem ter uma avaliação clínica de sua saúde. [É preciso verificar] se não está com a pressão alta, se não tem uma alteração de glicose, se não faz uso de algum medicamento ou substância que possa atrapalhar a gravidez. Se ela tem hábitos não adequados, como excesso de consumo de álcool, deve parar. Se é sedentária, deve fazer atividade física. Isso [avaliação clínica] vale para todas as idades, mas, à medida que a mulher vai envelhecendo, fica mais importante”, completa.

Por fim, vale explicar que as questões elencadas anteriormente (especialmente em relação à idade), dizem respeito a uma gravidez tradicional. Atualmente, conforme explica o médico, a mulher pode engravidar com embriões não produzidos por ela.

“Você usa o útero da mulher, mas o que você insere no útero é um embrião que foi feito a partir de uma situação artificial. Trata-se de outro cenário. Nesse caso, por esse processo, há notícias de uma mulher que engravidou aos 68 anos”, explica o ginecologista.

Na gravidez com outros óvulos também é essencial acompanhar de perto as condições clínicas da gestante, especialmente em mulheres mais velhas. O processo apenas permite gestações em idades mais avançadas, mas os cuidados não devem ser esquecidos.

Com a decisão consciente das brasileiras de engravidar apenas a partir dos 30 anos, a gestação do segundo e/ou do terceiro filho pode ocorrer já quando a mulher tiver superado os 40 anos. Dessa forma, a principal recomendação é levar em consideração os fatores que trazem risco em qualquer idade (bebida em excesso, tabagismo, sedentarismo), bem como atentar-se às condições clínicas das gestantes (em relação às diabetes, pressão alta e outras enfermidades).

Tardia ou precocemente, os desafios com os filhos são os mesmos. Eles trazem cansaço e felicidade, além de entrega em tempo integral. Nesse aspecto, não há idade ou diferença na rotina que mude o discurso que lista a felicidade em ser mãe.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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