Uma nova disciplina em defesa da vida

17 de março - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Thassio Borges

A revista científica Nature já indicara em 2010: doenças cardiovasculares em pacientes com câncer são cada vez mais frequentes. Neste cenário, o Hospital Sírio-Libanês criou, em parceria com o Instituto do Coração da USP (InCor) e o Instituto do Câncer do Estado de São Paulo Octavio Frias de Oliveira (Icesp), um centro de cardio-oncologia, que busca fomentar pesquisas e avanços nesta área, minimizando efeitos danosos a pessoas que enfrentam quimio e/ou radioterapia.

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Para Roberto Kalil Filho, diretor dos centros de Cardiologia do Sírio-Libanês e do InCor, o desenvolvimento da unidade no Brasil é muito importante, pois pesquisas voltadas à área têm sido cada vez mais frequentes no mundo. Por aqui, a Sociedade Brasileira de Cardiologia e a Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica lançaram em 2011 a I Diretriz nacional de Cardio-Oncologia.

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KALIL: “Tema tem sido abordado nos congressos de cardiologia e  oncologia do mundo todo.” Foto: Paulo Liebert

“Nos últimos cinco anos, esse tema tem sido abordado nos congressos de cardiologia e nos de oncologia do mundo todo. As sociedades brasileiras de ambas as áreas estão unidas para divulgar informações sobre os cuidados que devemos ter com os pacientes submetidos à radioterapia e à quimioterapia em relação às consequências dos quimioterápicos no coração. Estes podem causar desde o infarto até deficiência do músculo do coração, o que pode levar à deficiência cardíaca”, explica o especialista.

Pelo mundo, diversas instituições médicas têm investido na cardio-oncologia como forma de reduzir os efeitos cardiovasculares decorrentes dos tratamentos contra o câncer. Nos Estados Unidos, um dos principais centros é o Texas Heart Institute/MD Anderson Cancer Center, com missão ambiciosa: eliminar o câncer no Texas, nos Estados Unidos e no mundo por meio de programas que integrem os cuidados aos pacientes, às pesquisas e à prevenção. Vale citar também o Instituto de Oncologia de Milão, na Itália, que desenvolve pesquisas sobre o assunto.

A preocupação tem base. Países da Europa e os Estados Unidos já apresentam taxa de mortalidade por câncer superior à taxa de doenças cardiovasculares. No Brasil, a projeção é que isso ocorra entre 2020 e 2025, caso o cenário atual seja mantido. O que se observa é que os quimioterápicos têm provocado, em alguns casos, efeitos cardiovasculares, aumentando assim a possibilidade de o paciente vir a morrer em decorrência dessas enfermidades e não do câncer que está tratando. “Não é racional e producente curar um câncer para morrer de insuficiência cardíaca um ano”, escreveram os pesquisadores Wolney de Andrade Martins e Edneia Tayt-Sohn Martuchelli Moço, em editorial sobre o assunto na revista da Sociedade de Cardiologia do Estado do Rio de Janeiro.

Superação de Oscar

Os avanços nos tratamentos oncológicos resultaram na melhora da qualidade de vida dos pacientes e também no aumento da sobrevida, mas evidenciaram a ocorrência de possíveis doenças no coração.

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SUPERAÇÃO: O astro Oscar diz que já se sente melhor e espera reduzir os medicamentos. Foto: Divulgação

Foi o que aconteceu com o ex-jogador de basquete Oscar Schmidt. Em tratamento contra um câncer no cérebro, descoberto em 2011, o ex-atleta correu risco de morte no ano passado devido a uma infecção no coração. Em entrevista exclusiva ao Coração & Vida, Oscar afirma ser a prova viva de que é necessário atentar-se também aos possíveis efeitos cardiológicos dos tratamentos contra o câncer.

“Quando acontece isso você pensa que vai morrer. Tenho todos os problemas que as pessoas procuram evitar: na cabeça e no coração. Mas agora estou bem, só espero que meu médico me tire alguns remédios esta semana”, afirma, sempre rindo, o ex-jogador. Ele chegou a ficar um mês internado para tratar o problema cardíaco.

A partir de hoje, Coração & Vida publica uma série de entrevistas e vídeos a respeito da cardio-oncologia, com o objetivo de elucidar as características e os objetivos desta área, que vem ganhando cada vez mais destaque no meio médico. Além do cardiologista Roberto Kalil, já citado, serão entrevistadas também Ludhmila Hajjar, coordenadora das UTIs cardiológicas do InCor e do Sírio Libanês, e Laura Testa, oncologista clínica do Hospital Sírio-Libanês e do Icesp.

 

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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