Médico da Seleção minimiza efeitos do álcool antes do jogo

09 de setembro - 2015
Por: Equipe Coração & Vida

Médico do esporte desde a década de 1990, o ortopedista André Pedrinelli, 53 anos, é atualmente um dos médicos da Seleção Brasileira de Futebol. É dele e de Rodrigo Lasmar a responsabilidade de cuidar dos atletas da seleção durante as convocações e de preservá-los de lesões.

Pedrinelli, que já foi médico do Palmeiras, do Juventus e da Seleção Brasileira de Futsal, falou ao Coração & Vida sobre a rotina da equipe médica da Seleção, o caso do doping envolvendo o jogador Fred e o rigor nas concentrações.

Médico da Seleção minimiza efeitos do álcool antes das partidas
Médico da Seleção Brasileira de Futebol André Pedrinelli – Foto: Clóvis Miranda

Há controvérsias sobre o consumo de álcool, que é uma questão cultural. Os italianos, por exemplo, bebem vinho, mas o brasileiro não”, afirmou Pedrinelli, que também é chefe da medicina esportiva do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas.

Confira a seguir a entrevista:

Coração & Vida – Como é a rotina de um médico da Seleção Brasileira?

André – Fora do período de convocações é tudo administrativo, tem que conferir equipamentos e ler a regulamentação de campeonatos.  Não tem trabalho no dia a dia, o que é bem diferente de um médico de equipe. Aí quando tem convocação já começa todo o trabalho de planejamento, temos que avaliar qual a finalidade daquela convocação, se é amistoso, se é torneio, tem que ver também quanto tempo vai durar a convocação. Por exemplo, você tem jogos de seletivas da Copa, quando nos juntamos 48 horas antes. Aí o time joga e depois tudo é desmontado. Agora também teremos amistosos nos EUA, o time vai se concentrar e temos que levar em conta o país para onde a gente tá indo, as condições do lugar. Tudo isso tem que analisar.

C&V – Quais as características que um médico precisa ter para chegar a esse cargo?

André – Primeiramente, conhecer o esporte. Precisa ter vivenciado o esporte para atender suas demandas, além de ter formação e conhecimento em várias áreas. Eu mesmo sou ortopedista, mas preciso entender de fisiologia, reabilitação e controle de doping. Para trabalhar nessa área, o médico precisa ser plural.  Eu sempre estive relacionado com o futebol, inclusive sou torcedor, sou palmeirense.

C&V – Tem algum jogador que lhe dá mais trabalho?

André – De jeito nenhum, todos eles são muito profissionais. Essa foi uma das gratas surpresas que eu tive, eu acho o nível da comissão técnica altíssimo e o grau de profissionalismo dos jogadores é muito alto, eles se cuidam muito bem. São abertos a informações de como melhorar performance, respeitam horários e são excelentes profissionais.

C&V – Como você avalia a medicina esportiva do Brasil?

André – É do mais alto grau de competência técnica, tanto em capacitação profissional como em recursos à disposição. A gente tem excelência, não tenha dúvida de que temos tão ou mais competência do que outros países.

C&V – Já existe um mapeamento de dados dos nossos atletas para facilitar o trabalho dos médicos?

André – Sim, já existe aqui no Brasil, na CBF, que tem um programa de mapeamento de atletas há um ano e meio ou dois anos. A UEFA  tem 14 anos de mapeamento e usamos muito os dados deles, até porque a maioria dos nossos jogadores atua na Europa e lá tem todos os dados.

C&V – Que cuidados devem ser tomados para evitar desgastes físicos e lesões no futebol

André – O médico tem que conhecer muito bem o atleta para dosar bem a quantidade de treino e de jogos porque cada pessoa tem um limite físico. Todos chegam próximo do limite ou ultrapassam essa linha, e é preciso fazer prevenção e recuperá-los o mais rápido possível.

C&V – E os atletas, o que podem fazer para se cuidar?

André – Precisam ter uma boa alimentação, boas noites de sono e manter um condicionamento físico adequado. Eles precisam fazer a parte deles.

C&V – Você acha que a exposição dos jogadores mais jovens a uma carga pesada de treinos e jogos aumenta o risco de lesões?

André – Com certeza aumenta. Quanto mais tempo no esporte, maior exposição ao agente agressor. Mas, se fizer todo um condicionamento físico adequado, com nutrição, suporte psicológico e planejamento de treino, minimiza o risco de lesões.

C&V – O que o jogador de futebol pode e o que não pode fazer antes de uma partida?

André – Não pode ficar sem dormir direito e tem que ter uma alimentação adequada. A alimentação pré-jogo é diferente do que a dos dias normais e mais rica em carboidratos. Há controvérsias sobre o consumo de álcool, que é uma questão cultural. Os italianos, por exemplo, bebem vinho, mas o brasileiro não. Uma coisa que tem fazer mesmo é repousar pelo menos durante 48 horas, evitando durante esse período atividades físicas intensas. Um bom aquecimento também é importante para diminuir a incidência de lesões.

C&V – O rigor das concentrações não seria, então, exagerado?

André – O objetivo da concentração é preservar o atleta, tirá-lo do ambiente que pode causar interferência para a performance. A concentração é um ambiente tranquilo, regrado e existe no futebol porque tem mais dinheiro envolvido. Em outros esportes não tem concentração, é mais quando a equipe viaja. Mesmo na Europa, apenas em algumas partidas tem concentração.  Na Seleção Brasileira tem também a questão da viagem, muitos jogadores vêm de outros lugares. É muito diferente do ambiente do clube, já que é sempre um evento pontual na vida do atleta.

C&V – No caso do doping do Fred, a CBF afirmou que não receitou nenhum medicamento contendo a substância que foi encontrada no teste do jogador.  Como é o controle da comissão técnica sobre o que entra e o que sai da concentração durante o período de jogos? Como ele pode ter tido acesso à substância?

André – Ele pode ter ingerido a substância antes da concentração e apresentou traços dela na urina quando foi feito o teste. Quando a medicação da comissão técnica chega, ela é duplamente checada pra não passar nada passível de controle de doping. Durante a concentração, eu posso afirmar que ele não recebeu nada passível de controle. Agora, o que ele faz antes ou depois é da responsabilidade dos clubes.

C&V – Qual foi a pior situação que você já passou até hoje nesse cargo?

André – As lesões musculares são sempre um problema, porque às vezes elas evoluem como você não gostaria. São sempre situações de estresse.

C&V – Que dica você daria para quem quer se tornar médico do esporte?

André – Ter uma boa formação, um bom curso de medicina. Hoje já tem residência de medicina do esporte. Acho também que é interessante o médico procurar trabalhar no esporte, conhecer mais do assunto.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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