Nº de casos de câncer de próstata cresceu 414% em 23 anos
O número de novos casos de câncer de próstata no Brasil disparou 414% entre 1990 e 2013, passando de 18,7 mil para 96,3 mil, segundo um levantamento publicado no mês de junho pela revista médica JAMA Oncology. A estimativa do Instituto Nacional de Câncer (Inca) é de que, por ano, 69 mil novos casos sejam diagnosticados, um caso a cada 7,6 minutos.
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De acordo com o médico oncologista Oren Smaletz, do Hospital Albert Einstein, o crescimento do número de casos está, na realidade, associado ao surgimento do exame PSA (Antígeno Prostático Específico) para diagnóstico de tumores na próstata.
O exame começou a se popularizar no país no final da década de 80, apesar de ter sido descoberto algum tempo antes, no ano de 1974, pelo americano Richard Ablin.
“Com o advento do PSA, as pessoas começaram a descobrir mais tumores de próstata, uma vez que o exame é mais fácil de fazer. Antigamente, os pacientes já vinham para o tratamento com metástase e, agora, com o exame de sangue, descobrem a doença mais rapidamente”, afirma Smaletz.
O PSA é um exame de sangue simples feito em laboratório e que serve para identificar alterações na próstata, incluindo o câncer.
Normalmente, os homens saudáveis apresentam níveis de PSA menores que 4ng/ml, mas não é possível determinar que todos os casos de valores alterados signifiquem que o indivíduo tem câncer na próstata, segundo especialistas. É por isso que o diagnóstico da doença sempre associa o PSA com o toque retal, além de ressonância magnética e biópsia.
Smaletz explica que o exame serve para detectar precocemente a doença e aumentar as chances de cura. Segundo o médico, o paciente que faz o teste de PSA tem até 97% de chances de curar o câncer, desde que não esteja em metástase.
“Com esse exame, 97% dos pacientes ficam vivos depois de cinco anos de diagnóstico.”
Por outro lado, segundo o oncologista do Einstein, o envelhecimento da população brasileira nos últimos anos também levou a um aumento dos diagnósticos da doença. É sabido que a frequência do câncer de próstata é maior em homens com idade superior a 45 anos.
“É um problema de envelhecimento do tecido da próstata”, afirma o médico.
O oncologista menciona que, além da idade e da herança genética, os hábitos do indivíduo também irão contribuir para o desenvolvimento do tumor prostático, uma vez que apenas o diagnóstico precoce não é capaz de diminuir a incidência do câncer.
“Na China e no Japão essa doença é rara, mas os filhos de japoneses e chineses que foram morar nos EUA sofreram mais com os tumores, o que leva a crer que fatores alimentares e ambientais estão envolvidos. Por isso, a gente indica uma conscientização dos hábitos alimentares, com uma dieta pobre em gorduras e rica em fibras e verduras.”
O relatório da JAMA Oncology apontou também que o câncer de próstata matou 292,7 mil homens em todo o mundo, ficando na sexta colocação mundial entre os tipos de câncer que mais matam. No Brasil, ele ocupou a segunda colocação, com 17,7 mil vítimas.
Polêmica
A detecção precoce da doença tem sido motivo de discórdia entre instituições médicas brasileiras, segundo reportagem publicada recentemente pelo jornal Folha de S.Paulo.
A Sociedade Brasileira de Medicina de Família e Comunidade e o Inca passaram a contraindicar o rastreamento de rotina por toque retal e dosagem de PSA (antígeno prostático específico) no sangue.
Citando um estudo americano, os médicos da família apontam que o rastreamento precoce da doença por PSA ou toque retal não reduz a mortalidade dos homens.
O Inca, por sua vez, acredita que existem evidências científicas de que o tratamento do câncer de próstata produz mais danos do que benefícios. Problemas como incontinência urinária e impotência são alguns dos efeitos colaterais da cirurgia de câncer de próstata.
Já a Sociedade Brasileira de Urologia defende o diagnóstico precoce e recomenda que todo homem com mais de 50 anos – ou 45, no caso de negros e pacientes com histórico familiar– faça anualmente os exames.
Os urologistas afirmam que a pesquisa defendida pelos médicos da família tem falhas metodológicas e que, por isso, não podem servir de referência para o assunto. Eles citam como contraponto dois estudos europeus que apontaram até 40% de redução na chance de morrer entre quem faz os exames.
O urologista e professor da USP Miguel Srougi diz que cerca de 18% dos homens serão atingidos pelo câncer de próstata, mas apenas 9% desses casos morrerão pela doença.
“A conclusão óbvia é que a maioria dos pacientes sobrevive ao câncer, alguns por portarem tumores pouco agressivos, que não progridem, outros graças à ação médica curativa.”
Em meio à polêmica e troca de opiniões, converse com o seu urologista de confiança.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo