O uso de antibióticos e contraceptivos causa dúvidas; saiba mais

07 de fevereiro - 2018
Por: Equipe Coração & Vida

Quando uma mulher que toma anticoncepcionais recebe uma prescrição de antibiótico, a preocupação logo vem: os dois remédios podem interferir um no outro e acabar permitindo uma gravidez indesejada?

Durante muitos anos, as mulheres receberam o conselho de que sua pílula anticoncepcional poderia tornar-se menos efetiva se elas também fizessem uso de antibiótico. Mas, mesmo com dados de diversos estudos a esse respeito, a associação entre o uso de antibióticos e a contracepção oral combinada é ainda controversa.

Foto: Shutterstock
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Grandes ensaios clínicos vêm sendo concluídos, mas, de acordo com alguns deles, nem todos os antibióticos podem causar essa “suspensão” do contraceptivo.

Segundo uma pesquisa do Departamento de Obstetrícia e Ginecologia da Universidade da Carolina do Sul e do Centro de Pesquisa Clínica para Medicina Reprodutiva da Eastern Virginia Medical School, um antibiótico – com o princípio de rifampicina – provou prejudicar de fato o controle de natalidade.

O antibiótico diminui a eficácia do contraceptivo ao diminuir os níveis de hormônios em mulheres que tomam pílulas orais, mostrou a pesquisa. Ou seja, não se deve fazer uso de antibióticos e anticoncepcionais sem conselho médico – e, como sugerem muitos profissionais, usar ainda um método associado, como o preservativo.

“Existe, sim, interferência entre alguns medicamentos e é necessário que a mulher utilize outro mecanismo de proteção. O ideal é sempre usar preservativos”, diz Marcos Machado, presidente do Conselho Regional de Farmácia de São Paulo.

“No mês em que a mulher precisou tomar antibiótico, o aconselhável é ela providenciar proteção adicional. Começando um novo ciclo do anticoncepcional, ela poderá ficar mais tranquila”, explica Machado. O mais recomendável é adicionar um método de barreira, como preservativo feminino, masculino, diafragma, espermicida.

E um alerta importante: no caso de uso do DIU, se for usado o de cobre, não há interferência com o antibiótico – mas se for o hormonal, pode sim haver a interferência (pois alguns medicamentos alteram o metabolismo dos hormônios como levonorgestel do DIU hormonal, causando uma diminuição da sua eficácia).

Interação com a flora

Os antibióticos de largo espectro, aqueles que conseguem eliminar mais tipos de bactérias, são os mais delicados para o uso associado com os contraceptivos – remédios como penicilina, amoxicilina, eritromicina, tetraciclina e a rifampicina, citada no estudo dos norte-americanos.

Mas por que os antibióticos têm tanta influência na ação dos anticoncepcionais? A explicação leva até o intestino.

Quando a mulher toma a pílula, ela vai para o estômago e é absorvida pelo trato gastrointestinal. Depois disso, o medicamento entra na corrente sanguínea e vai para o órgão responsável pela metabolização, o fígado.

Cerca de metade desse estrogênio que chegou ao fígado é ativado e começa a proteger a mulher contra a gravidez. A outra metade, no entanto, se transforma em compostos sem nenhuma ação, excretados pela bile, e seguem para o intestino.

É nesse momento que as bactérias da flora intestinal entram em ação: elas produzem uma enzima que transforma esses compostos que o fígado não aproveitou em estrogênio ativo novamente – que, por sua vez, entra na corrente sanguínea e retorna para evitar a gravidez até a tomada da nova pílula.

“O caso é que os antibióticos, em geral, agridem fortemente a microbiota intestinal”, explica Machado. E quando liquidam as bactérias, o princípio do contraceptivo é eliminado. A mulher, então, fica desprotegida.

O fenômeno não acontece, necessariamente, com todas as mulheres que tomarem antibióticos e pílulas anticoncepcionais. Mas daí a recomendação de um método anticoncepcional de barreira por até seu próximo ciclo de contracepção, como garantia.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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