Odeia óculos? Tire suas dúvidas sobre a cirurgia de correção de grau
Muita gente se incomoda em depender integralmente dos óculos ou das lentes de contato, mas ainda tem receio de consultar um oftalmologista e conversar sobre uma possível cirurgia para corrigir o grau. É preciso saber, no entanto, que os procedimentos são seguros e jamais um oftalmologista vai liberar um paciente para operar sem que ele preencha todos os requisitos para isso.
Em primeiro lugar, os médicos não recomendam cirurgia em pessoas com menos de 21 anos, mas também há limite de idade. “O ideal é fazer antes dos 35, porque por volta dos 40 anos a pessoa começa a ter outros problemas, como a presbiopia – dificuldade para enxergar de perto, que aparece com a idade”, explica a oftalmologista Lísia Aoki, do Hospital das Clínicas de São Paulo.
“Se opera com quarenta anos ou mais, ela não vai se livrar dos óculos por muito tempo, pois vai começar a não enxergar bem de perto.”
Além disso, é preciso esperar que o grau já esteja estabilizado ao menos um ano, pois, se operar antes disso, é possível que o grau continue a aumentar, levando a pessoa a precisar de óculos novamente. Para quem se encaixa dentro dos requisitos recomendados, há quatro tipos de cirurgias disponíveis para corrigir miopia, astigmatismo e hipermetropia. Veja abaixo:
PRK: o professor e chefe do Setor de Óptica Cirúrgica do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais da Escola Paulista de Medicina (Unifesp), Walton Nosé, conta que a PRK (do inglês photorefractive keratectomy) foi a primeira cirurgia existente para correção de miopia, astigmatismo e hipermetropia.
“A PRK tem como grande vantagem o altíssimo nível de segurança, especialmente em paciente com córneas mais finas ou leves alterações em sua curvatura”, explica o médico. Para operar, é feita uma “raspagem” na camada mais superficial da córnea, sem a necessidade de criar um flap, como é feito no Lasik, cirurgia mais moderna.
Nosé relata que, nessa cirurgia, os pacientes se queixam de maior desconforto e dor do que aqueles que fizeram Lasik. “Mas isso pode ser aliviado com uso de anti-inflamatórios tópicos ou orais, e analgésicos”, explica. A visão vai melhorando gradualmente nas duas primeiras semanas e atinge um resultado definitivo dentro de quatro a oito semanas.
Assim como toda cirurgia, a PRK tem contraindicações. Ela não é a cirurgia de escolha para quem tem problemas oculares, como ceratocone, glaucoma, catarata, síndrome do olho seco, entre outros, já que pode agravar os problemas.
Histórico de herpes ocular no último ano também impede que se faça o procedimento. Além disso, grávidas ou lactentes devem esperar para fazer a cirurgia.
Lasik: técnica usada desde 1991, ela consiste em levantar uma fina camada da córnea – o chamado flap – para aplicar o laser internamente e remodelar a curvatura, corrigindo o grau. “No Lasik tradicional, o flap é feito a partir de um aparelho especial chamado microcerátomo, que usa lâmina de metal”, explica Nosé. Em outras palavras, é como se abrisse a “tampa” de uma lata de ervilha para que o laser consiga agir no interior do olho. Depois disso, a “tampa” é recolocada no lugar, que cicatriza normalmente. Nessa técnica a pessoa já passa a enxergar bem em poucos dias.
“Habitualmente, o Lasik é um procedimento indolor, rápido e com grande segurança. A NASA e a Força Aérea Americana aprovaram a cirurgia para seus astronautas e pilotos”, explica o especialista.
Quem tem córnea muito fina – e isso apenas um oftalmologista consegue diagnosticar –, não é um bom candidato a essa cirurgia. Nesse caso, a melhor escolha é a PRK. É importante saber que nenhuma das técnicas corrige a presbiopia, perda de visão natural da idade. “Caso o paciente esteja próximo dos 40 anos, o cirurgião pode programar para deixar um dos olhos com leve miopia, pois isso retardará a necessidade do uso de óculos para perto”, diz Nosé.
Femto Lasik: O chefe do Setor de Óptica Cirúrgica do Departamento de Oftalmologia e Ciências Visuais explica que a técnica é a mesma, mas o flap é feito com um laser ultra-rápido, e não com a lâmina de metal.
Smile: técnica mais recente, a Smile (abreviação para Extração Lenticular com Pequena Incisão) usa o laser de femtosegundo (o mesmo do Lasik) para criar uma incisão pequena – de dois a quatro milímetros – na superfície da córnea. A partir desse pequeno corte, o cirurgião consegue corrigir o grau, seja de miopia, hipermetropia ou astigmatismo.
De acordo com Walton Nosé, a vantagem da técnica em relação aos outros procedimentos é que não há corte de flap como no Lasik. “Isso faz com que o trauma da cirurgia seja menor, que tenha menor incidência de olho seco e menos alterações na estrutura da córnea”, explica.
Além disso, não há raspagem do epitélio, como na PRK, o que resulta em uma recuperação mais rápida. Mas nem tudo são flores: essa técnica tem limite de correção para graus baixos e não permite fazer ajustes ou retoques depois da operação.
Vai operar? Veja os cuidados depois da cirurgia
De maneira geral, quem fez a cirurgia volta às atividades normais no dia seguinte à cirurgia, sem necessidade de ficar internado. No caso da PRK, a visão demora cerca de duas semanas para voltar ao normal. É preciso, porém, prestar especial atenção nos três primeiros dias após a cirurgia. Quem faz atividades físicas de contato, por exemplo, deve parar no pós-operatório, mas academia e caminhada estão liberadas já no dia seguinte.
A oftalmologista Lísia Aoki avisa que não é permitido coçar os olhos de forma alguma, e que é preciso usar corretamente os colírios recomendados pelo médico.
Em seguida, é preciso apenas voltar ao oftalmologista para acompanhar a evolução da cirurgia. O retorno acontece dentro do primeiro mês, e depois espaçando, como três meses depois até que as visitas vão se tornando esporádicas. Mas não é só porque se livrou dos óculos que se pode esquecer do oftalmologista: as consultas de rotina devem continuar para o resto da vida.
“Orientamos, principalmente para alguém tem grau mais forte de miopia, a não esquecer que o olho continua de alguém com grau alto. Mesmo que não precise mais usar óculos ou lente de contato, a retina ainda é uma retina de míope”, explica Lísia. Com isso, há os riscos – que sempre existiram – como o de descolamento de retina.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo