Perda da libido: por que isso acontece?
Talvez seja uma condição pouco comentada por vergonha ou medo de exposição íntima. Mas a verdade é que a perda da libido (ou falta de desejo sexual) chega a atingir entre 15% e 50% dos adultos – a maioria, mulheres.
As causas variam muito, então o primeiro passo ao admitir que algo não vai bem nessa questão é identificar o motivo da falta de desejo. Antes de tudo, deve-se descartar fatores biológicos, como problemas hormonais, efeitos colaterais pelo uso de medicamentos (como, por exemplo, os contraceptivos) e a presença de doenças crônicas.
No caso das mulheres, o parto, a amamentação e a menopausa também são fases em que a perda da libido pode acontecer. Mas o mais comum, segundo especialistas, é que a falta de libido surja em algum momento da vida por questões psicológicas ou de relacionamento.
Entra aí a possibilidade de o problema ser causado por transtornos como ansiedade e depressão (que estão por trás de cerca de 40% dos casos de perda de libido), traumas anteriores ou experiências sexuais negativas, além de dificuldades com o parceiro ou preocupação com a aparência corporal. Questões de momento, como um divórcio, também afetam o desejo.
Um estudo realizado pela psiquiatra, sexóloga e coordenadora do Prosex (projeto sobre a sexualidade do brasileiro criado em 1993 no Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo), Carmita Abdo, aponta que metade das brasileiras apresenta algum tipo de disfunção sexual – como falta de libido, dificuldade de manter a excitação e inibição do orgasmo.
A pesquisa ouviu 3 mil participantes com idade entre 18 e 70 anos divididos em faixas etárias. Foram entrevistadas pessoas das regiões metropolitanas de São Paulo, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Salvador, Belém, Porto Alegre e do Distrito Federal.
O Estudo da Vida Sexual do Brasileiro, como foi chamado, apontou, entre outros temas, que esses problemas não dependem necessariamente da idade da mulher, mas variam de acordo com a faixa etária.
A falta de desejo é queixa de 5,8% das jovens entre 18 e 25 anos e de 19,9% das mulheres acima dos 60 anos. Entre os homens, essa porcentagem diminui bastante: apenas 2,4% dos jovens e 5% dos idosos reclamam de perda da libido.
Intimidade no cotidiano
Em geral, nota-se que, em muitos casos, as pessoas que percebem a perda do desejo sexual estão muito focadas em obrigações do dia a dia – da rotina de trabalho e os cuidados com os filhos até a pressão para seguir uma dieta.
Outras pesquisas como essa já haviam mostrado antes que muitos casais sequer conversam cinco minutos por dia. Aí fica complicado, especialmente no caso da mulher, sentir desejo – já que, no caso delas, isso costuma acontecer de forma mais responsiva do que espontânea.
Isso significa que o desejo, no caso dos homens, pode ser despertado simplesmente pelo estímulo visual, por exemplo. Já a libido feminina é mais afetada pelo que está acontecendo ao redor, de problemas no trabalho ao interesse que o parceiro demonstra; ela precisa se sentir desejada para ficar estimulada.
Para encontrar uma solução, é importante levar o problema ao especialista em ginecologia ou urologia – que podem identificar causas biológicas (incluindo problemas como dores durante a relação, vaginismo e incapacidade de atingir o orgasmo). Esses profissionais podem dar orientação básica quanto a questões comportamentais também. E, mais tarde, pode-se discutir com um psiquiatra ou um psicólogo sobre o assunto.
Uma coisa é certa: não se deve apenas aceitar a situação como “algo normal”. Avaliar causas e iniciar tratamentos físicos ou mesmo psicoterapia individual ou de casal costuma ter efeitos positivos e sanar completamente a perda da libido – trazendo de volta o prazer íntimo e reaquecendo a vida como um todo.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo