Pesquisa sobre doenças na internet requer cuidados
Milla Oliveira
Quem nunca pesquisou sobre algum problema de saúde na internet? Segundo o Google, uma em cada vinte pesquisas realizadas no site de buscas é sobre doenças e seus sintomas.
Em 2013, as doenças mais pesquisadas foram gripe, diabetes, ansiedade, tireoide e HIV, seguidas por mononucleose, lúpus, herpes e pneumonia. Um relatório do site sobre os assuntos mais procurados em 2014 indica que as buscas sobre Ebola foram o quinto maior pico de pesquisas do ano passado.
Essa mania de pesquisar doenças na internet é conhecida como cibercondria. É como se fosse a hipocondria da era digital.
Na opinião do cardiologista Max Grinberg, diretor do Núcleo de Bioética do InCor e autor do blog Bioamigo, que discorre a respeito da ética médica, a pesquisa sobre doenças e seus sintomas na internet é uma realidade que já faz parte da relação médico-paciente.
“Se a pessoa quer simplesmente saber o que uma doença significa, a internet é bastante vantajosa”, diz o médico.
A versão em inglês do gigante de buscas já conta com recursos capazes de facilitar a vida de quem quer entender os sintomas de uma doença. Hoje, descrever o que sente para o “Dr. Google” pode ser suficiente para que o site apresente as possíveis doenças relacionadas ao que foi relatado. No entanto, a empresa não se responsabiliza pelas informações apresentadas.
O problema está exatamente nessa questão: até que ponto as informações da internet sobre doenças são confiáveis?
Para o médico do InCor, a qualidade da informação é muito importante nesse caso.
“A pessoa pode verificar a procedência, quem coordena o site que ela está pesquisando, quem são as pessoas que estão informando, qual a organização que está por trás, se é uma sociedade especializada, um hospital bem qualificado. É muito importante verificar qual é o patrocinador desse site, se a empresa que apoia a página de informação médica tem uma boa imagem. Ela vai fazer questão de associar a boa imagem à qualidade do site”, diz.
A analista de comunicação Gabriela Carvalho, 23 anos, costuma correr direto para o Google quando sente alguma dor ou mal estar. “A minha primeira alternativa é pesquisar em sites de saúde. Muitas vezes acabo me assustando, paro a pesquisa, espero um pouco ou então marco médico o mais rápido possível”, disse.
Gabriela já até achou que estava com tuberculose quando tossiu durante uma semana. Depois, quando consultou um especialista, descobriu que não era nada daquilo. Contudo, a analista lembra que sempre tem o cuidado de verificar nos textos que lê se algum médico foi usado como fonte e a que instituição esse profissional está vinculado.
“O que faço bastante também é dizer ao médico que li sobre o assunto e tiro algumas dúvidas que talvez eu não tivesse se não pesquisasse.”
Nesse ponto, Grinberg chega a afirmar que a internet pode ser considerada como uma terceira pessoa na relação médico-paciente.
“Muitos pacientes já vão ao médico com a informação que leram na internet, com uma expectativa, achando que a doença que supõem ter é algo mais banal ou mais grave.”
O médico acredita que não há como ser contra essa nova realidade, e que o ideal é que o profissional de saúde esteja preparado para lidar com o paciente conectado.
“Há a necessidade de um aprendizado do profissional de saúde com relação a esse terceiro no consultório. É preciso informar a população sobre o valor da internet.”
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo