Prevenção de câncer de pênis merece atenção
O câncer de pênis é um tipo de carcinoma raro no Brasil, alcançando cerca de 2% dos homens, segundo dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca).
O tumor peniano é muito perigoso. De acordo com o Sistema Único de Saúde (SUS), há cerca de mil amputações por ano do órgão no Brasil em decorrência da doença. Entretanto, se descoberto a tempo, o câncer pode ser tratado com procedimentos menos dramáticos e invasivos.
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A presença de feridas avermelhadas, pequenos nódulos no pênis ou na virilha, manchas esbranquiçadas e mau cheiro são os principais sintomas e o homem consegue identificar esses sinais na hora de urinar ou se vestir, por exemplo.
A prevenção pode ser bem simples, segundo o urologista José Ribamar Calixto, responsável pelo Grupo de Estudos de Câncer de Pênis (Gecap) do Departamento de Medicina da Universidade Federal do Maranhão.
“A principal recomendação é lavar o pênis, a glande do pênis. Se o homem tem uma pele que cobre essa glande e ela não se retrai, a região vai ficar suja de esmegma, se não for lavada. Se essa substância ficar acumulada por muito tempo, vai virar um liquido ácido, contaminado e propício para o desenvolvimento de um ferimento e isso vai acabar evoluindo para um nódulo canceroso”, explica o médico.
Homens não circuncidados – ou que não removeram cirurgicamente o prepúcio, a pele que cobre a glande – são um grupo de risco para o câncer de pênis, visto que a existência dessa pele pode dificultar a lavagem da área, principalmente para quem não tem um nível satisfatório de instrução de como fazer a higiene íntima.
Estudos científicos também sugerem a associação entre infecção pelo vírus HPV (papilomavírus humano) e a doença.
A maior incidência do câncer de pênis no país ocorre no Norte e no Nordeste. Nessas regiões, o índice chega a 10%. O Maranhão é o estado campeão no número de casos, registrando um episódio novo a cada 16 dias, de acordo com a Sociedade Brasileira de Urologia (SBU).
As amputações de pênis no estado são mensais, e acometem de 8 a 10 homens, segundo dados do Gecap.
O câncer de pênis é frequentemente associado a regiões com baixo IDH (Índice de Desenvolvimento Humano). A maior incidência mundial da doença é encontrada na Índia, com taxas de 3,32 casos a cada 100 mil habitantes, e a menor incidência nos judeus nascidos em Israel, com taxas próximas a zero – segundo Ribamar Calixto, essa baixa taxa em Israel pode estar relacionada à obrigatoriedade da circuncisão, que deixa a glande do pênis exposta, arejada e mais fácil de ser limpa. Nos Estados Unidos, a incidência é de 0,2 casos para cada 100 mil habitantes.
Essa associação do câncer de pênis com o IDH acontece porque nesses locais há um baixo nível de educação sobre higiene e dificuldade de acesso aos serviços de saúde.
Dois municípios do Maranhão – Fernando Falcão e Marajá do Sena – apresentam os mais baixos IDHs do país, segundo a Organização das Nações Unidas (ONU).
Ribamar Calixto aponta que o dano causado pelo câncer peniano no organismo pode não se restringir apenas à amputação do membro nos casos mais graves. Grandes tumores podem levar ao surgimento de linfonodos na virilha do paciente e, consequentemente, espalhar a neoplasia para outras partes do corpo. A cirurgia para remoção desses gânglios pode ser bem dolorosa.
“A retirada dos linfonodos deixa a pessoa muito tempo internada e a cicatriz na raiz da coxa dificulta os movimentos no pós-operatório. Depois, isso quase impede esse homem de voltar a trabalhar na roça, o que causa um problema grande em áreas rurais”, diz o médico.
Genética
Médicos urologistas, oncologistas e de outras especialidades se reuniram para estudar a genética do câncer de pênis com a finalidade de impedir o aparecimento de metástases após a retirada do tumor. Com o resultado do trabalho, será possível prever qual câncer poderá gerar metástase e agir antes que isso ocorra.
“Sabemos que, dependendo da profundidade da lesão e do local onde ela está, há mais chances de gerar metástases ou não. Ao analisarmos o DNA e o RNA, podemos comparar os diversos tipos de cânceres penianos e propor uma nova abordagem para seu tratamento”, afirma Calixto, um dos participantes do estudo da Universidade Federal do Maranhão.
O protocolo atual indica a retirada dos linfonodos apenas se houver um comprometimento palpável de tumor. No entanto, o paciente no momento da retirada do câncer de pênis pode não ter esse comprometimento e ele surgir mais tarde.
Com o estudo genético, seria possível indicar em que casos a retirada dos linfonodos é aconselhável mesmo antes de seu comprometimento.