Os prós e os contras da dieta detox

11 de janeiro - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

O nome é dieta desintoxicante. Existe em estilos diferentes, mas, em geral, os alimentos industrializados são banidos do cardápio e as refeições diárias são baseadas em sucos e sopas – que teriam a função de “diminuir a ingestão calórica, limpar o organismo e o nutrir apenas com alimentos saudáveis”.

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Mas essa terminologia, a tal “desintoxicação”, é algo simplista. O que acontece é que todos nós consumimos mesmo certos alimentos que nosso corpo não foi “planejado” para metabolizar, como agrotóxicos, tabaco e outros elementos que a natureza não previu serem absorvidos. Mas o organismo é adaptável.

Foto: Shutterstock
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Podemos sobreviver com essas substâncias, entre diversos motivos, porque o fígado, por exemplo, é capaz de lidar com muitas delas. Intoxicação, na realidade, acontece só em casos específicos (como ao ingerir alimentos estragados). Já as toxinas presentes em alimentos processados pela indústria podem, na maioria, ser filtradas pelas barreiras do organismo.

E quando a vida moderna e essas inadequações que consumimos precisam ser controladas, pode, sim, entrar em cena a dieta detox. Para chegar até ela, especialistas em nutrição estudaram elementos que ajudavam a microflora intestinal e o fígado, por exemplo, a eliminar substâncias nocivas que eram retidas após a alimentação – para depois impor uma dieta com um mínimo de toxinas.

Entrar na dieta detox pode, então, ser uma boa; permanecer nela por muito tempo, talvez nem tanto.

A especialista Cynthia Antonaccio, mestre em nutrição e idealizadora da Nutrição Comportamental, falou com o Coração & Vida sobre o tema – e esclareceu dúvidas para quem pensa em tentar uma dieta detox.

O que tem que ser eliminado do cardápio?

Na maioria das dietas detox, são retirados do menu diário alimentos processados ruins (existem comidas em latas e pacotes que são, sim, perfeitamente aceitáveis para consumir). Foca-se nas verduras e frutas, que não geram toxinas. “O caso é que a própria natureza pode produzir alimentos que se tornam tóxicos também – como o espinafre, que pode não fazer bem em excesso por roubar minerais do organismo”, explica Cynthia. Aí a necessidade de ter cuidado com uma dieta seguindo 100% esse modelo.

Esse tipo de dieta é difícil de seguir?

É difícil. E muitas pessoas acabam enjoando logo da dieta por eliminar tantos tipos de alimentos. “Acontece que os radicalismos não são úteis”, diz Cynthia Antonaccio. “O melhor seria maximizar o que é bom – como comer mais peixes, vegetais e castanhas – e não se concentrar no que retirar do cardápio”, completa. É certo que os grãos, frutas, verduras, peixes (uma carne menos processada) e todos os alimentos mais naturais, que não tenham sofrido tantas interferências, são boas inclusões na rotina alimentar. Ficar apenas restrito a eles é mais complicado.

Quanto tempo deve durar uma dieta detox?

Tudo o que se repete cansa; ainda mais para pessoas que vêm de uma alimentação muito desequilibrada. “Ficar se entupindo de chás e sopas, se a pessoa não gosta disso, não ajuda em nada”, lembra a nutricionista. Então, talvez o tempo de uma dieta não deva se contar em dias ou semanas seguidos, mas alternados. “Seria melhor que, duas vezes por semana, a pessoa adotasse sim uma dieta detox, mudando hábitos e entendendo melhor seu paladar, incluindo alimentos mais naturais. Acordar de manhã e comer frutas com aveia, por exemplo, e almoçar pratos feitos com ovos, peixe, azeite e outros ingredientes do tipo.” Mais do que ficar evitando alimentos por uma semana, deve-se incluir alimentos saudáveis por muitos e muitos dias até se tornar um (bom) hábito.

As dietas detox são uma moda passageira?

“Acho que um fator mudou muito as coisas no ramo da nutrição nos últimos dois anos: as mídias sociais são mais influentes na saúde e no estilo de vida. Quem primeiro levou essas ideias para as redes foram os próprios nutricionistas; na internet, isso virou uma oportunidade de compartilhar ideias e, daí, as pessoas passaram a ouvir conselhos de influenciadores digitais de todo tipo. Muitos começaram, então, a procurar os profissionais da área, mas nem todos – e isso pode ser perigoso, porque cada indivíduo precisa ser avaliado de perto antes de seguir essas dietas”, diz Cynthia Antonaccio.

Ou seja: nem todo mundo pode ou deve precisar de uma dieta detox. “Vamos falar da couve, um vegetal com muitas qualidades e muito usada, crua, misturada a suco de laranja nos sucos detox. Pode ser uma ótima fonte de nutrientes e de alimento natural, mas os elementos presentes na couve crua podem impedir a absorção de outros minerais, causando problemas de saúde”, explica a nutricionista. O que ela quer dizer é que o modismo e repetição de hábitos, em uma dieta restrita e castradora, seguida como uma religião, tende a ser prejudicial. O bom é ter conhecimento do próprio corpo e desejar, mais que tudo, o equilíbrio alimentar.
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Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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