Milla Oliveira

A expectativa pela rapidez do resultado proporcionado pela cirurgia bariátrica pode mascarar os conflitos emocionais que existem por trás da obesidade. É o que alerta a psicanalista Marlene Monteiro, do Departamento de Cirurgia do Aparelho Digestivo do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Para a especialista, existe por parte da maioria dos pacientes uma ansiedade maior pelo resultado da cirurgia, que é o emagrecimento, do que em solucionar as questões que podem ter levado ao excesso de peso. “A pessoa precisa entender por que ela está se apresentando ao mundo dessa maneira”, atenta Marlene.

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A importância do processo de avaliação psicológica antes, durante e depois da cirurgia bariátrica já foi tema de reportagem do Coração & Vida. A avaliação faz parte do protocolo médico para a realização da redução do estômago e, em tese, o paciente precisa cumprir esta etapa para finalmente estar apto ao procedimento cirúrgico.

Contudo, segundo a psicanalista do HC, por vezes o paciente entra na terapia somente para cumprir esse protocolo, o que não é a situação ideal. Apesar de reafirmar a importância desse processo para a cirurgia, Marlene questiona a pressa com que os pacientes passam pela avaliação psicológica atualmente e considera que a maioria acredita que não exista nada além dos aspectos orgânicos da obesidade.

A psicanalista explica que a obesidade está instalada no organismo por causa de conflitos emocionais antigos, já que o excesso de peso pode representar uma proteção contra problemas com os quais pessoa não consegue lidar.

“Eu costumo dizer que a obesidade é como uma ‘terceira perna’, que oferece uma sustentação a mais para a pessoa”, diz, ressaltando que é daí que vem a importância do processo terapêutico para a realização da cirurgia bariátrica. “Não podemos retirar essa ‘terceira perna’ sem dar um suporte adequado para que essa pessoa possa se sustentar sem a gordura”.