Quando o treinamento passa da conta
Às vezes, é pela busca de um corpo “perfeito”. Às vezes, pela animação de estar ganhando força rapidamente. E, às vezes, é apenas uma perda de noção com um novo hábito criado. O fato é que, quando um indivíduo se lança com firmeza e sem acompanhamento nos exercícios físicos, é possível que passe da conta – e aí, entram em cena as lesões.
Na academia ou naquela corrida de rua e outras modalidades, muitos fatores favorecem o aparecimento das lesões, sendo os mais comuns as técnicas inadequadas na realização de exercícios e o treinamento excessivo, com sobrecarga.
Para falar sobre o assunto – e ajudar a evitar esse tipo de situação –, o Coração & Vida conversou com Newton Nunes, professor de educação física da Unidade de Reabilitação Cardiovascular e Fisiologia do Exercício do Instituto do Coração (InCor), de São Paulo.
Coração & Vida – Normalmente, por que o atleta amador sente lesões ao praticar atividade física?
Newton Nunes – O atleta amador costuma enfrentar lesão ao praticar atividade física devido a alguns fatores: falta de aquecimento adequado ou colocar uma intensidade muito elevada por muito tempo em determinado treino ou treinar com intensidade e frequentemente, por exemplo. Muitas vezes, o atleta amador não realiza o fortalecimento muscular adequado também; ou seja, atinge distâncias cada vez maiores nos treinos e competições sem se preparar com musculação (para as pernas, principalmente).
C&V – Que tipos de lesões são mais frequentes?
Newton Nunes – É muito comum entre corredores acontecer a fascite plantar. É a inflamação da sola do pé, desde o calcanhar até os dedos, e pode provocar dor e dificuldade para caminhar. A tendinite do calcâneo e a inflamação da canela também são comuns nos corredores. Em alguns amadores, também pode ocorrer o estiramento muscular, geralmente na parte posterior da coxa, que ocorre quando as fibras do músculo são alongadas além de seu limite, sendo a dor do estiramento imediata.
C&V – Como se prevenir? Qual a “medida certa” para não se lesionar?
Newton Nunes – A prevenção acontece através da realização de uma avaliação física inicial (ergométrica ou ergoespirométrica), além de testes que avaliam as capacidades motoras. Por exemplo: teste de impulsão vertical e horizontal, resistência abdominal, equilíbrio, flexibilidade e outros. O profissional de educação física realiza depois a prescrição de treinamento físico coerente com a condição física atual do indivíduo e progride nessa prescrição de uma maneira gradativa e segura.
C&V – Como perceber que aconteceu uma lesão? A dor é o indicativo?
Newton Nunes – Geralmente, o principal sintoma da lesão é a dor, sim. E esse sintoma deve ser respeitado. Quando o atleta chega nesse estágio, certamente, o treinamento físico deve ser interrompido e, dependendo dos sintomas e regiões do corpo, deve-se procurar um especialista para realizar exames e avaliar sua real condição.
C&V – Em geral, como acontece a recuperação (e o tratamento)? Basta parar os exercícios?
Newton Nunes – Normalmente, no período de recuperação das lesões, o atleta precisa interromper os treinos. Analgésicos e anti-inflamatórios podem ser prescritos pelos médicos em estágios mais leves. Infelizmente, nem todos os atletas amadores respeitam completamente esse período. E, com isso, as lesões tornam-se muitas vezes intermitentes, ou seja, os sintomas acabam voltando.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo