“Raspar o prato” nem sempre é o ideal
A cena é tão comum quanto desgastante entre pais e filhos pequenos: chega a hora das refeições e a criança é insistentemente incentivada a “raspar o prato”. A prática é tradicional, mas segundo Cid Fernando Pinheiro, pediatra do Hospital São Luiz Morumbi, em São Paulo, não indica que o pequeno está necessariamente bem alimentado.
“Se os pais colocam uma pequena quantidade de comida e a criança ‘raspa o prato’, não quer dizer que está certo. O inverso também: se ela recebe uma grande quantidade de comida e come tudo, pode não ser algo positivo. No primeiro caso, é possível gerar desnutrição; no outro, obesidade”, explica o pediatra.
Então, quanto colocar no prato?
Muitos pais acreditam que essa percepção virá do próprio cotidiano da criança, no qual ela indicará se está satisfeita ou não, ou apenas porque “é o certo”. A observação dos pais, no entanto, pode não ser a mais correta.
“A melhor maneira de acompanhar uma criança em relação à sua alimentação é por avaliações objetivas e constantes feitas pelo pediatra, que registra peso, estatura e perímetro encefálico (o tamanho da cabeça da criança)”, diz Pinheiro.
Além disso, o pediatra deve avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, que pode dar indícios de uma nutrição inadequada.
Preocupação comum
Pinheiro diz que a alimentação é um dos temas de maior preocupação dos pais nos primeiros anos de vida da criança. Dessa forma, o médico ressalta que, quando mais nova é a criança, maior deverá ser a frequência de avaliações junto ao pediatra. Veja a relação abaixo:
1º semestre de vida – avaliação mensal
2º semestre – avaliação bimestral
Entre 1 e 2 anos – avaliação trimestral
A partir de 2 anos – avaliação semestral
Quantidade e qualidade
Ao falar sobre problemas de alimentação (desnutrição ou obesidade), Pinheiro ressalta que as avaliações levam em consideração não apenas a quantidade de alimentos, mas também sua qualidade.
“Podemos ver que a criança faz seis refeições diárias, portanto a qualidade tende a estar correta. Mas a qualidade dos alimentos pode ser ruim, com um exagero de carboidratos e gorduras em detrimento de proteínas, verduras, frutas”, avalia o pediatra.
De acordo com Pinheiro, o que também acontece muitas vezes é que a criança apresenta bom desenvolvimento, mas os pais insistem que ela está comendo pouco ou que não aceita determinados alimentos mais saudáveis.
E então, forçar a comer tudo o que é colocado no prato pode resultar em desequilíbrios no mecanismo de saciedade da criança – e casos de obesidade ou de ansiedade em relação à comida.
Variar a alimentação, sem desistir dos alimentos não preferidos da criança, é o ideal (apresentando de forma diferente: cozido, assado, frio, quente, junto a outros ingredientes). Com novas receitas, “raspar o prato” não precisará ser a segurança que os adultos acham que têm.
Texto
Thassio Borges
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo
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