“Raspar o prato” nem sempre é o ideal

07 de junho - 2018
Por: Equipe Coração & Vida

A cena é tão comum quanto desgastante entre pais e filhos pequenos: chega a hora das refeições e a criança é insistentemente incentivada a “raspar o prato”. A prática é tradicional, mas segundo Cid Fernando Pinheiro, pediatra do Hospital São Luiz Morumbi, em São Paulo, não indica que o pequeno está necessariamente bem alimentado.

“Se os pais colocam uma pequena quantidade de comida e a criança ‘raspa o prato’, não quer dizer que está certo. O inverso também: se ela recebe uma grande quantidade de comida e come tudo, pode não ser algo positivo. No primeiro caso, é possível gerar desnutrição; no outro, obesidade”, explica o pediatra.

 

Apenas a percepção dos pais quanto à quantidade de comida não determina se a criança está comendo bem. Foto: Shutterstock
Apenas a percepção dos pais quanto à quantidade de comida não determina se a criança está comendo bem. Foto: Shutterstock

 

Então, quanto colocar no prato?

Muitos pais acreditam que essa percepção virá do próprio cotidiano da criança, no qual ela indicará se está satisfeita ou não, ou apenas porque “é o certo”. A observação dos pais, no entanto, pode não ser a mais correta.

“A melhor maneira de acompanhar uma criança em relação à sua alimentação é por avaliações objetivas e constantes feitas pelo pediatra, que registra peso, estatura e perímetro encefálico (o tamanho da cabeça da criança)”, diz Pinheiro.

Além disso, o pediatra deve avaliar o desenvolvimento neuropsicomotor da criança, que pode dar indícios de uma nutrição inadequada.

 

Preocupação comum

Pinheiro diz que a alimentação é um dos temas de maior preocupação dos pais nos primeiros anos de vida da criança. Dessa forma, o médico ressalta que, quando mais nova é a criança, maior deverá ser a frequência de avaliações junto ao pediatra. Veja a relação abaixo:

 

1º semestre de vida – avaliação mensal

2º semestre – avaliação bimestral

Entre 1 e 2 anos – avaliação trimestral

A partir de 2 anos – avaliação semestral

 

Quantidade e qualidade

Ao falar sobre problemas de alimentação (desnutrição ou obesidade), Pinheiro ressalta que as avaliações levam em consideração não apenas a quantidade de alimentos, mas também sua qualidade.

“Podemos ver que a criança faz seis refeições diárias, portanto a qualidade tende a estar correta. Mas a qualidade dos alimentos pode ser ruim, com um exagero de carboidratos e gorduras em detrimento de proteínas, verduras, frutas”, avalia o pediatra.

De acordo com Pinheiro, o que também acontece muitas vezes é que a criança apresenta bom desenvolvimento, mas os pais insistem que ela está comendo pouco ou que não aceita determinados alimentos mais saudáveis.

E então, forçar a comer tudo o que é colocado no prato pode resultar em desequilíbrios no mecanismo de saciedade da criança – e casos de obesidade ou de ansiedade em relação à comida.

Variar a alimentação, sem desistir dos alimentos não preferidos da criança, é o ideal (apresentando de forma diferente: cozido, assado, frio, quente, junto a outros ingredientes). Com novas receitas, “raspar o prato” não precisará ser a segurança que os adultos acham que têm.

 

Texto
Thassio Borges

 

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

 

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Alimentação infantil: vale premiar ou castigar?

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