Reflexos de um trauma
Considerado durante anos uma consequência emocional entre os militares que enfrentaram guerras, o transtorno de estresse pós-traumático já não é exclusividade da vivência em campos de batalha. Conhecido pela sigla TEPT, que é um distúrbio de ansiedade, o mal atinge em torno de 15% das pessoas expostas a situações como violência doméstica e urbana, desastres naturais e atentados. Pode ocorrer mesmo que o indivíduo não seja a vítima direta, mas testemunha de um evento traumático que envolva morte ou ferimento.
O transtorno é desengatilhado ao alterar a resposta do corpo ao estresse, afetando os neurotransmissores que carregam as informações pelo sistema nervoso. Não se sabe por qual razão os eventos traumáticos causam TEPT em algumas pessoas e em outras não. Para caracterizar o problema, os sintomas devem permanecer por 30 dias e é importante ressaltar que nem todo sentimento de angústia é sinal de TEPT.
Além do apoio de amigos e familiares, o tratamento psicológico é indispensável para reduzir os sintomas e encorajar a vítima a expressar sentimentos sobre o evento traumático até que as lembranças se tornem menos assustadoras. A terapia em grupo é um importante recurso. Nela, o paciente compartilha sua experiência e conhece a de outras pessoas, descobrindo que não está sozinho.
De acordo com o diagnóstico médico, podem ser receitados medicamentos que ajudem a reduzir a ansiedade e outros sintomas. Mas o uso de remédio só deve ocorrer com prescrição de um especialista. Recomenda-se ainda que não haja abuso de álcool e outras substâncias, já que isso pode agravar o quadro.
Palavra de especialista
O psiquiatra Luis de Moraes Altenfelder Silva Filho, do Hospital das Clínicas de São Paulo (HC-SP), assinala que vivenciar uma situação traumática não significa obrigatoriamente desenvolver um quadro de TEPT. “O aparecimento depende de uma complexa rede de fatores, como suscetibilidades genéticas, estilo de personalidade e a história de experiências anteriores. Devemos lembrar que um evento nunca é, por si, traumático. A resposta psíquica ao evento é que pode ser considerada como tal, sendo então acompanhada de intenso medo, impotência e horror.”
Segundo ele, o TEPT difere do transtorno do pânico. O portador de TEPT experimenta esses sintomas por mais de um mês após o trauma e reexperimenta o evento traumático por meio de sonhos e sensação de recorrência. “O transtorno do pânico é marcado por intensa ansiedade e medo, além de sintomas como taquicardia, falta de ar, tontura, sudorese e sensação de morte iminente. Neste caso, os sintomas não estão condicionados a um trauma.”
A exposição a um trauma é muito maior em países em situação de guerra, catástrofes naturais, genocídio, terrorismo e outras formas de violência. “Mas em cidades grandes, como São Paulo, Rio de Janeiro e outras metrópoles, violência doméstica, social e urbana podem desencadear o problema.”
Altenfelder lembra que o estresse é parte da vida da maioria das pessoas. Não é, no entanto, motivo único para o transtorno de estresse pós-traumático. Trânsito congestionado, transporte público ruim, dificuldades financeiras, relacionamento conjugal e familiar conflitante, por exemplo, são fatores estressores que podem desengatilhar transtornos mentais em pessoas suscetíveis.