Ronco pode ser tratado com exercícios para a garganta
Quem convive com um roncador sabe que as noites podem ser muito difíceis. Como é um problema que atinge mais os idosos e os obesos, as estatísticas apontam que o número de pessoas que roncam deve crescer, pois a progressão da idade dos brasileiros avança (13% da população terá mais de 65 anos em 2030) e a obesidade já atinge 18% das pessoas. Hoje, 54% da população adulta sofre de ronco, segundo pesquisas.
Muita gente pensa que o ronco é algo inofensivo, mas não é. Além de ser um problema social, ele indica que o indivíduo pode sofrer com obstrução da via aérea e apneia do sono – fator de risco para doenças cardiovasculares.
Pesquisadores do InCor (Instituto de Coração) desenvolveram uma técnica pioneira para tratar o problema, que consiste em exercícios para fortalecer os músculos envolvidos na produção do ronco. Ela foi testada num grupo de 39 pacientes adultos (de 20 a 65 anos), de ambos os sexos, com queixas de ronco.
“São exercícios feitos pelo fonoaudiólogo com músculos da garganta, com a musculatura dilatadora da garganta. Se a pessoa dedicar sete minutos por três vezes ao dia, melhora o ronco em até 50%”, explica o pneumologista Geraldo Lorenzi Filho, diretor do Laboratório do Sono do InCor.
Os exercícios podem ser incorporados às atividades rotineiras, como se alimentar, escovar os dentes ou no percurso para o trabalho, por exemplo. Apesar de fáceis, os exercícios precisam ser acompanhados por um fisioterapeuta para garantir a execução correta.
De forma simplificada, o médico explica que para fazer o tratamento antirronco basta realizar alguns movimentos como empurrar a língua contra o céu da boca, sugar a língua para cima pressionando-a por completo contra o céu da boca e posicionar o dedo na parte interna da bochecha entre os dentes, dentre outros exercícios.
Esse tratamento só é possível graças a uma tecnologia inédita desenvolvida pela parceria do InCor com o Instituto de Física da USP: o aparelho de registro contínuo do ronco, que grava os sons concomitantemente à polissonografia e, por meio de um software, analisa e registra a intensidade e a frequência do ronco.
“A gente desenvolveu uma metodologia própria, que mede a altura do ronco. Assim, pudemos mostrar objetivamente que o problema diminui com os exercícios”, afirma Lorenzi.
Além de diminuir o ronco, essas técnicas recentes também favoreceram a redução da papada, aquela gordura avantajada que algumas pessoas têm abaixo do queixo.
“A papada foi reduzida no grupo que participou do estudo porque os exercícios feitos com a língua deixam o pescoço mais firme”, explica o médico do InCor.
O que é o ronco?
O ronco nada mais é do que o barulho causado pela vibração dos tecidos da faringe quando o ar passa na região. A faringe do ser humano é muito estreita e, quando dormimos, há um relaxamento natural dessa musculatura e uma tendência de colapso nessa região que vibra quando o ar passa por ela.
Obesos, pessoas com idade avançada e mulheres que já passaram pela menopausa têm maiores chances de desenvolver o ronco. No obeso, essa condição é agravada pelo acúmulo de gordura no pescoço, que dificulta ainda mais a passagem do ar. Nos outros grupos, o ronco é favorecido pela flacidez dos tecidos da faringe.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo