Setembro Amarelo: é necessário falar sobre suicídio

20 de setembro - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

Apesar da alta incidência de suicídios no mundo, o tema ainda é muito delicado e gera diversas dúvidas entre as pessoas. Afinal, como identificar sinais suicidas em amigos e familiares? E como lidar com a situação caso identifique cenários deste tipo?

Há quem defenda, com argumentos razoáveis, que falar sobre o assunto amplifica o número de casos. No entanto, cresce no meio médico a perspectiva de que o suicídio não pode ser ignorado ou escondido, sob o risco justamente de não socorrer aqueles que pedem ajuda, ainda que indiretamente.

No primeiro semestre deste ano, o lançamento da primeira temporada da série 13 Reasons Why trouxe à tona um importante debate a respeito do suicídio. Na história, adaptada de um livro sob o mesmo nome, uma estudante tira a própria vida após passar por situações de violência em sua escola e grupo social. A garota deixa, no entanto, uma caixa com 13 fitas cassetes, nas quais explica os motivos que contribuíram para que ela chegasse a tal ponto.

Cerca de 40 dias após o lançamento da série, o mundo do rock foi abalado com a morte do cantor Chris Cornell. Dois meses depois, um novo choque era noticiado: amigo de Cornell, o vocalista Chester Bennington também havia morrido. Em ambos os casos foram registrados suicídios.

Foto: Shutterstock
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De acordo com Elton Yoji Kanomata, psiquiatra do Hospital Israelita Albert Einstein, duas em cada três pessoas que tentam ou consumam o suicídio haviam comunicado de alguma forma sua intenção para amigos, familiares ou conhecidos.

Falar sobre o assunto não significa culpar os que estão próximos a essas pessoas pelo o que ocorreu. Pelo contrário, o objetivo é ajudá-las a identificar esses sinais, para que seja possível acionar ajuda especializada o quanto antes.

“Tem quem defenda que se deve evitar a discussão sobre suicídio quando há a intersecção com figuras públicas [celebridades, ídolos de rock], pois haveria o risco de estimular ou fazer apologia ao suicídio. Acredito que a ideia tem direção oposta disso. Entendo como uma oportunidade de se falar sobre algo que ainda nos dias atuais carrega um estigma muito pesado. Falar sobre suicídio abre espaço para mostrar um grande problema de saúde pública no mundo inteiro e que é pouco discutido ou talvez nem conhecido”, revela Kanomata.

De acordo com o psiquiatra, números da Organização Mundial da Saúde apontam uma morte por suicídio a cada 40 segundos no mundo. “Há mais mortes por suicídio do que por guerras e homicídios juntos.”

Na maioria das vezes, os sinais de suicídio não são expostos de forma tão clara, no discurso oral, por exemplo. Antes de consumarem ou tentarem o ato, a maior parte das pessoas expõe suas ideias de forma indireta, através de códigos que, se percebidos, podem auxiliar as pessoas próximas a incentivarem ou buscarem diretamente ajuda profissional.

“Nem sempre os sinais são tão evidentes. A pessoa, é claro, pode falar sobre suicídio, mas pode também dar outros indícios de que está pensando nisso. Geralmente, quem começa a pensar em suicídio retrai-se. Diminui o contato social, prefere ficar sozinho. Mesmo que não fale sobre suicídio, essa pessoa pode demonstrar preocupação grande sobre a morte, pode registrar mudanças no padrão de sono [dormindo mais ou muito menos], no apetite. Pode haver também uma ‘desesperança’, um medo do futuro, um entendimento de que a vida não vale a pena”, explica Montezuma Pimenta Ferreira, psiquiatra do Hospital Sírio-Libanês.

Para Ferreira, um dos principais sentimentos entre aqueles que começam a manifestar ideias suicidas é o de incapacidade. É uma percepção de que não é possível “suportar” a vida e todas as dificuldades que surgem no cotidiano de cada um.

“É uma ideia de que a pessoa não consegue ‘dar conta’ de uma série de episódios que vem vivenciando. […] Em algumas situações, a pessoa começa a se desfazer de objetos de valor emocional, pede para que um amigo ou familiar cuide de seu animal de estimação ou até mesmo se despede, de alguma forma, de pessoas próximas”, complementa.

Portanto, ao identificar algum ou alguns dos sinais que caracterizam ideais suicidas em familiares e amigos, é necessário procurar ajuda profissional o quanto antes para avaliar melhor o quadro.

“A continência familiar é extremamente importante, tanto no resguardo à vida, mas também no processo terapêutico. Pode ser difícil para os familiares, principalmente quando estão amedrontados diante desse choque inicial, mensurar a real intencionalidade suicida que a pessoa apresenta. O maior risco que pode ocorrer nesse momento é de ser subestimado e a pessoa vir a consumar o suicídio. Portanto, diante dessa situação, é importante a procura por um profissional especializado para que possa ser tratado de forma adequada e segura”, explica Kanomata.

O assunto, de fato, não é fácil. Torna-se ainda mais difícil por envolver pessoas próximas, familiares, amigos. Justamente por isso é que se deve abordar o tema com maior naturalidade, evitando qualquer tipo de julgamento e conceitos pré-formulados.

“Falar sobre o suicídio é muito importante e não aumenta o risco. Convidar essas pessoas a falar, a relatar seus pensamentos, muitas vezes, é um alívio para elas mesmas. São pessoas que estão inseguras, fragilizadas, confusas. Se a pessoa já faz terapia, já tem um acompanhamento especializado, o familiar pode, por exemplo, levá-la até as sessões, incentivando esse tratamento”, finaliza Ferreira.

Vale citar também o trabalho realizado pelo Centro de Valorização da Vida, que realiza apoio emocional e prevenção do suicídio. A instituição atende de forma voluntária e gratuita todos aqueles que precisam conversar e expor suas angústias.

O serviço é sigiloso e pode ser feito por telefone (141), e-mail, chat e voip, em qualquer dia da semana, em qualquer horário. Mais informações sobre o atendimento podem ser obtidas através do telefone 188.

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Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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