Síndrome do pavio curto: conheça o problema que provoca acessos de fúria

01 de março - 2018
Por: Equipe Coração & Vida

Por Eli Pereira

O sinal da internet cai e, em um acesso de fúria, a pessoa arremessa o computador na parede. Uma fechada no trânsito resulta em agressões verbal e física, ou, ao receber uma notícia desagradável, bate o carro propositalmente, tamanha a raiva. Situações assim podem caracterizar a Síndrome do Pavio Curto, ou Transtorno Explosivo Intermitente, problema que traz consequências para a vida social e pode trazer, inclusive, enrascadas com a justiça.

De acordo com a psicoterapeuta Vânia Calazans, autora do livro “Mente Impulsiva, Comportamento Explosivo” (Ed. Sinopsys), o Transtorno Explosivo Intermitente (TEI) pode surgir ainda na infância, a partir dos seis anos, ter um pico aos 30 anos e perdurar até os 50, quando costuma declinar.

Foto: Shutterstock
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Quando aparece na infância, costuma ser confundido com o desenvolvimento natural da criança e passa desapercebido.

“No início da idade adulta, porém, já começa a chamar mais atenção. Teoricamente, o adolescente já teria de ter mais maturidade para lidar com a agressividade, mas nas pessoas que tem TEI isso não acontece”, explica Vânia.

Por volta dos 30 anos é que o transtorno se evidencia. “Considera-se que seja em função dos vários gatilhos de estresse que a pessoa sofre, já que existe uma maior pressão para que ela se posicione em termos profissionais”, comenta a psicóloga.

Aos 50 anos, por sua vez, a tendência é que o transtorno se amenize em função da maturidade. “A pessoa já passou por uma série de problemas e dificuldades e ela começa a encontrar maneiras de evitar isso. Começam a querer se isolar um pouco para evitar esses comportamentos explosivos.”

São os homens que têm mais risco de ter o transtorno. Estima-se que, a cada mulher que sofre com TEI, há dois homens com o transtorno.

Por que é um problema?

É preciso deixar claro que nenhum portador de TEI premedita os ataques de fúria. A raiva é incontrolável para aqueles que não buscam ajuda psicológica ou até mesmo medicamentosa. Vânia conta que, muitas vezes, é necessário algum tempo para que as pessoas identifiquem que o que elas têm pode ser um transtorno.

“Muitas pessoas consideram essa agressividade exagerada como um traço de personalidade. Dizem que são filhos de italianos, descendentes de portugueses e têm o sangue quente.”

O problema é que as explosões começam a trazer vários prejuízos, e a pessoa passa a ter consequências no trabalho e perder o emprego por não conseguir controlar o impulso agressivo.

“A vida familiar fica desorganizada, muitas vezes passam por separações e quem sofre com TEI começa, inclusive, a ter problemas com a lei”, exemplifica a psicóloga. Brigas no trânsito, no bar ou em outros locais passam a ser recorrentes.

Transtorno aprendido

Costuma-se dizer que o TEI é um transtorno transgeracional, ou seja, não é genético, mas pode ser aprendido na infância caso alguém da família – ou alguém próximo à criança – sofra desse descontrole.

“Normalmente naquelas famílias onde há um paciente que apresenta sintomas de TEI, você vai encontrar outras pessoas que também têm dificuldade de gerenciar um impulso agressivo”, comenta Vânia.

“A criança aprende por modelação. Ela vê os pais, os avós, os irmãos ou outros parentes próximos lidarem com frustração de maneira agressiva e impulsiva, e passam a repetir o mesmo comportamento”, preocupa-se.

Explosão de raiva nem sempre é TEI

Não adianta tachar aquele ataque de fúria de TEI. Nem sempre é. De acordo com o psicólogo Yuri Busin, há muitas pessoas naturalmente mais “esquentadas”, mas que isso não chega a ser patológico. Além disso, outros problemas também podem causar explosões de raiva que não estão ligadas à TEI.

“Há quem possa ter outras síndromes, como o burn out e, quando está muito estressada, se tornar mais agressiva. Outro exemplo é o transtorno de personalidade borderline, em que a pessoa é intolerante a frustrações. Com isso, tende a explodir, perder o controle e ficar transtornada, inclusive chegando a agressões físicas”, explica Busin.

Vânia conta que o Alzheimer, outras demências e até mesmo um traumatismo craniano pode levar a uma irritabilidade exacerbada, mas que não estão ligados à TEI. Procurar um médico é importante para receber o tratamento correto – seja ele medicamentoso ou psicoterápico – e eliminar o sofrimento.

Há tratamento

O Transtorno Explosivo Intermitente tem solução. Vânia explica que o tratamento é psicoterápico para que o portador de TEI aprenda a identificar os gatilhos de estresse que faz com que ele tenha o impulso agressivo.

“O tratamento que mais apresenta resultado é a terapia cognitivo-comportamental. A hipnoterapia cognitiva também, pois, através da hipnose, o paciente também consegue excelentes resultados”, explica a psicóloga, ressaltando que o uso de medicação nem sempre é necessário, mas quando se julga que a pessoa será beneficiada, o psiquiatra é o responsável pela prescrição.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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