Thassio Borges

Três acidentes vasculares cerebrais, trombose na perna e no braço, psoíte, hemorragia cerebral, hidrocefalia e infecção generalizada. Tudo isso em praticamente um ano. O cantor Netinho afirma que viu a morte de perto em inúmeras vezes e não é exagero. Chegou a ser “desacreditado” por médicos em momentos extremamente delicados, mas recuperou-se. Como? Ele mesmo explica, em entrevista exclusiva ao Coração & Vida.

“Acreditei na minha recuperação. Falei e falo muito sobre a pessoa querer se curar. Esse é o primeiro passo. Quando o paciente não quer, pode ter o melhor tratamento possível, mas não sai da cama”, afirmou o cantor, que recebeu a reportagem no Hospital Sírio-Libanês, onde realiza, há dois meses, um tratamento contra tontura.

“Hoje já não tenho nada. Sigo acompanhando, faço os exames, mas não tenho nada. É só a tontura, que infelizmente me impede de viajar, fazer shows, etc. Mas já estou melhorando”, explica o cantor, que apesar dos problemas enfrentados não perde o otimismo.

As dificuldades de Netinho tiveram início em 2013, quando o cantor passou a sentir uma forte dor na perna, aparentemente sem explicação óbvia. “Era uma dor horrível, não conseguia esticar a perna, parecia que havia uma espada entrando no músculo”, afirma. O diagnóstico médico foi psoíte, uma inflamação de um músculo do abdômen chamado psoas. De uma enfermidade, descobriu-se outra.

“Eu havia tomado anabolizantes uns anos antes e isso havia causado, em segredo, prejuízos ao fígado. Sem alerta nenhum, aconteceu à revelia da minha percepção. Fui operado e acabei contraindo infecção intestinal generalizada. Fiquei péssimo, cheguei a pesar 50 kg, seco na cama. Não tinha carne no rosto. Já em São Paulo, para onde fui transferido, segui fazendo o tratamento e descobriram que a infecção foi causada por uma bactéria muito forte. Começaram a somar vários antibióticos no tratamento, mas no meio disso tudo, tive o AVC. Para minha ‘sorte’, eu já estava no hospital, portanto não tive sequelas de movimento. Mas fiquei sem voz durante um tempo”, recorda o cantor.

No meio da conversa, emocionado, Netinho chora copiosamente. Apesar da força que demonstra, o episódio ainda é muito recente. Traz sequelas, inclusive emocionais. Após receber alta do hospital em novembro, Netinho foi para sua casa, em Salvador. Seguiu o tratamento de lá, recuperou-se e voltou ao Rio de Janeiro para lançar um novo show na cidade. Cantou no Carnaval desse ano e continuou trabalhando, mas no meio do ano passou a sentir fortes tonturas e teve de parar as atividades novamente.

“Parei tudo. Fui ao psiquiatra e o diagnóstico foi depressão. Passei a tomar remédio para isso, mas não conseguia malhar, não conseguia fazer nada. Até o dia em que não quis comer mais, porque enjoava com a comida. De tudo o que eu tive desde o ano passado, o pior é a depressão”, avalia.

Anabolizantes

Netinho não esconde o uso de anabolizantes. Relata ter usado duas substâncias indicadas por um endocrinologista de São Paulo num momento em que procurava algum tratamento que lhe desse mais potência para shows e turnês musicais.

“Tomei esses produtos durante alguns meses. Em 2011, depois do verão, já parei”, revela. Desde que descobriu as consequências das substâncias, Netinho passou a alertar jovens e pais a respeito dos prejuízos que os anabolizantes podem gerar.

“Os jovens tomam isso sem saber o que é. Os pais também desconhecem. Muito gente veio falar comigo depois, pelas redes sociais, que a mãe havia jogado os produtos fora. Os pais vinham dizer que estava proibindo ou inibindo os filhos de usarem. Isso é o mais importante. O jovem quando vai à academia, vê aquele cara forte que fala pra ele usar aquilo pra ficar igual, e acaba tomando essas substâncias. Mães e pais muitas vezes deixam os filhos usarem sem saber o que é aquilo”, completa.

Netinho segue em tratamento em São Paulo para aliviar as tonturas que, em determinado momento, lhe impediam de realizar os shows. Quando se recuperar, pretende reiniciar a turnê e lançar um livro para contar sua história. Em 2014, o cantor comemora 25 anos de carreira, que já lhe rendeu uma indicação ao Grammy Latino (2009) e milhares de discos vendidos no Brasil e no exterior.