Transtorno de Personalidade Borderline: entenda as aflições de quem passa por ele

18 de agosto - 2017
Por: Equipe Coração & Vida

Um grave transtorno de personalidade caracterizado por desregulação emocional, raciocínio extremista e relações caóticas. Essas são algumas das definições sobre o Transtorno de Personalidade Limítrofe (TPL) ou Transtorno Estado-Limite da Personalidade – mais conhecido como Transtorno de Personalidade Borderline (TPB).

Pessoas com TPB sofrem com vários aspectos desse mal, mas talvez o primeiro deles seja a dificuldade no entendimento da doença – pelo paciente, pelas pessoas que o cercam e até mesmo para os médicos especialistas.

Foto: Shutterstock
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“Para caracterizar o Transtorno de Personalidade Borderline é necessário que o paciente preencha apenas cinco critérios dos nove descritos”, explica Erlei Sassi, coordenador do Ambulatório de Transtorno de Personalidade e Impulso do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas em São Paulo.

São sintomas psiquiátricos diversos, como problemas de identidade e humor instável e reativo, assim como sensações de irrealidade e despersonalização. Os portadores de TPB podem ter tendência a um comportamento excessivamente “briguento”, além de sofrer de tendência manipulativa e chantagista e sentimentos crônicos de vazio e tédio.

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“Assim, pode-se imaginar como os pacientes podem ser diferentes, havendo muitas combinações comportamentais para definir a presença do TPB”, completa Sassi.

Por outro lado, como o psiquiatra explica, definir que um paciente tem ou não tem o transtorno já é muito importante: “Dimensionar o quanto esses traços atrapalham o funcionamento do indivíduo é mais importante ainda, entendendo o quanto a doença é grave”.

O transtorno (que estima-se afligir cerca de 2% da população mundial) tem tantas características e categorias que isso o torna uma das doenças mais complicadas de se diagnosticar.

Pessoas com TPB são aparentemente vistas como rebeldes, problemáticas, geniosas, temperamentais e muitos outros adjetivos genéricos. E apenas uma avaliação bastante focada pode evitar confusões de entendimento do problema. O processo, longo e complexo, algumas vezes leva anos para ser estabelecido – até para não ser confundido com depressão ou algum tipo de psicopatia.

Basicamente clínico e baseado em entrevistas, algumas vezes os médicos podem também solicitar exames de imagem para auxiliar na identificação. “Mas esses exames têm muito mais função, hoje em dia, de excluir algumas lesões neurológicas, não para definir o TPB”, explica Erlei Sassi.

Algo importante, segundo o médico, é que um familiar, amigo ou parceiro do paciente pode ajudar muito a perceber esse transtorno. Alguns, alertados pela divulgação das informações que caracterizam o TPB (ou mesmo por obras de ficção, como filmes e novelas em que haja personagens portadores) podem observar, na convivência, que é preciso avaliar mais de perto as situações de instabilidade emocional.

Quando uma palavra mal colocada pode fazer o humor do indivíduo mudar dramaticamente, causando situações de grande risco, brigas constantes e automutilações, isso é um alerta sério.

“Por outro lado, às vezes, as pessoas próximas sentem dificuldade de entender o transtorno e mesmo de aceitar”, diz Sassi. Até porque o mais comum no curso do Transtorno da Personalidade Borderline é um padrão de instabilidade crônica no início da idade adulta (em torno dos 20 anos), quando o comportamento de muita gente passa por grandes mudanças.

A fase inicial pode ser desafiadora para o paciente, seus familiares e terapeutas. Porém, em muitos casos, a severidade do transtorno diminui com o tempo. Estudos mostram, assim como registros clínicos, que durante a faixa entre 30 e 40 anos, a maioria dos indivíduos com TPB adquire maior estabilidade em seus relacionamentos e funcionamento profissional.

O tratamento, dependendo da gravidade, necessita de vários recursos – desde consulta médica em conjunto com medicação, psicoterapia individual, em família, psicoterapia de grupo e, em casos graves, até internações hospitalares. Na grande maioria das vezes, o TPB necessita ainda de uma abordagem multiprofissional.

“As medicações são, sim, necessárias – bem como a retirada de substâncias que o paciente usa para ‘se medicar’”, explica Sassi. “É que se torna comum, por exemplo, que pacientes usem o álcool como um ansiolítico. Mas isso funciona por pouco tempo e traz muitos efeitos colaterais, inclusive aumentando a impulsividade.”

Os especialistas, então, recorrem a drogas como os inibidores de recaptação de serotonina, que agem na dopamina e no ácido gama-aminobutírico (neurotransmissores envolvidos em redes neurais implicadas no transtorno). Elas levam ao controle dos impulsos e estabilização do humor. Tudo para trazer mais qualidade de vida às pessoas com uma condição de saúde das mais complexas.

Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo

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