Tristeza na 3ª idade não é normal
É comum ver idosos com aparência triste, apática, desatentos e desmotivados. Longe de parecer normal, esse quadro pode revelar uma doença devastadora: a depressão.
Os idosos e as quedas: uma relação que pede muito zelo
A Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) revela que pessoas entre 60 e 64 anos de idade representam a faixa etária com maior proporção (11%) de diagnóstico de depressão. Com a estimativa de que em 2050 a terceira idade represente um quinto da população brasileira, segundo dados do IBGE, é possível prever que boa parte dos brasileiros estará deprimida se a doença for negligenciada na velhice.
São muitos os fatores que podem levar ao aumento da incidência da depressão na terceira idade, entre eles a aposentadoria e a consequente sensação de inutilidade, a falta de realização profissional, a dificuldade financeira por conta da redução do salário, o isolamento social, as alterações físicas e de saúde e até a perda de familiares e amigos por morte.
“Não há uma vacina contra a depressão. Eventos de vida muito difíceis, grandes perdas e doenças graves podem levar qualquer pessoa à depressão”, afirma a psiquiatra Rita Ferreira, do Programa Terceira Idade do Instituto de Psiquiatria do Hospital das Clínicas de São Paulo (IPq).
Entretanto, o maior problema está na falta de diagnóstico e de tratamento adequado, pois a doença pode culminar em demência e até mesmo em Alzheimer se não for tratada. O tratamento inclui mudanças no estilo de vida, inserção social e medicamentos em casos mais graves, desde que haja indicação médica.
Ainda que seja possível tratar a doença, a prevenção é de grande ajuda na maior parte dos casos. Uma boa medida de prevenção contra a depressão é manter uma vida ativa, procurando sair de casa e ter relações sociais.
Pode parecer uma tarefa difícil para um idoso que está com uma condição financeira restrita, mas é possível tomar certas medidas, como começar a ler mais, ouvir música, cozinhar, participar de grupos de pessoas com interesses em comum, frequentar cursos gratuitos, parques e até conversar com o vizinho. Atividade física também é fundamental e uma caminhada diária no quarteirão de casa já serve.
“As medidas gerais para a saúde e o bem-estar do idoso são as mesmas que o protegerão das doenças crônicas: atividade física de rotina, relacionamento com amigos e com os familiares, ler, dançar, ouvir música, tentar aprender novos conhecimentos, procurar ser útil a alguém, enfim, cuidar-se de um modo geral”, aconselha a psiquiatra.
O papel da família é essencial para evitar a depressão do idoso, principalmente para identificar os sintomas da doença. Além da tristeza e da apatia, esquecimentos, dores sem causa clínica, mau humor, choro fácil e emagrecimento dão pistas de que algo não está indo bem.
“A família precisa apoiar essa pessoa e também estar atenta aos possíveis sintomas de depressão e levar ao médico quando necessário, se interessando pelo seu idoso e acompanhando o tratamento”, diz a psiquiatra.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo