Você no controle da sua autoestima
Às vezes, é uma fase. Uma fase cruel e que, se demora a passar, compromete bastante a qualidade de vida de um ser humano. A autoestima não é exatamente uma condição de doença mental, como a depressão, e não tem um fator genético; mas aprender a lidar com ela é importante em qualquer fase da vida.
Trabalhar na apreciação de si mesmo, se colocando de um modo confiante frente aos desafios da vida, é algo importantíssimo – ainda que nem sempre seja fácil para muita gente que, por exemplo, não cresceu com esse estímulo.
“O mecanismo inicial da autoestima vem de fora para dentro, porque toda voz interior parte de uma voz exterior. Então, crescer ouvindo que o que você faz tem valor ajuda muito a desenvolver a capacidade de dizer isso para si mesmo”, explica o psicólogo Flávio Voight, sócio-fundador da Oriente Psicólogos Associados, em Curitiba (PR).
Mas pessoas que se convencem de não serem bonitas, inteligentes, atraentes, competentes ou agradáveis ficam em constante luta com a rotina, trazendo preocupação e infelicidade – e, não raro, afetando a saúde física.
“A falta de autoestima não é uma doença em si, mas é um fator de risco e um componente de vários transtornos mentais, como a depressão. Pensamentos autodepreciativos são parte do diagnóstico diferencial”, completa Voight.
Ele acrescenta que, quando não se tem essa experiência desde a infância, ainda assim o indivíduo pode “ensinar a si mesmo a falar dessa maneira” – até que o pensamento positivo, essa consideração sobre si, vire algo natural.
Algumas mudanças de hábito podem ser de grande ajuda para elevar a autoestima. O psicólogo Flávio Voight elencou algumas delas junto com o Coração & Vida para proporcionar um fortalecimento a quem quer e precisa melhorar a confiança em si mesmo.
1 – Se arrumar e vestir bem
Algumas pesquisas indicam que a roupa utilizada pode ter efeito nos processos mentais de um indivíduo – como um estudo conduzido por dois professores da Universidade Northwestern, nos Estados Unidos, que identificou ligação entre profissionais que se sentem mais reconhecidos e mais bem-sucedidos ao vestir suas roupas favoritas. Pessoas usando aquilo em se sentem mais bonitas tendem a se avaliar como mais inteligentes e mais confiantes. Além disso, o ritual de se arrumar ajuda a se sentir bem simplesmente por separar um tempo do dia só para destacar aquilo que uma pessoa gosta em si.
2 – Pensar positivo, evitar a negatividade
Serve como um exercício para treinar o cérebro: buscar continuamente encontrar coisas que gostamos em nós mesmos ajuda a manter o pensamento voltado automaticamente para coisas valorosas sobre si, em vez de ir automaticamente para a autocrítica. Aos poucos, isso se reflete nas decisões do nosso dia a dia.
3 – Ser generoso consigo e com os outros
Alguns estudos ligam o ato de agir generosamente com níveis menores de cortisol, um hormônio relacionado ao estresse. Recentemente, o jornal médico britânico BMC Public Health compilou 40 estudos que ligaram o voluntariado ao aumento da saúde geral e à felicidade dos indivíduos. Ser generoso e ser voluntário também mostrou ótima atuação no combate à depressão e na capacidade de diminuir o risco de morte prematura.
4 – Tentar se conhecer cada vez melhor
Se conhecer melhor ajuda a apropriar-se do destino: sabendo bem o que se deseja e o que lhe faz bem, uma pessoa tende a tomar decisões mais apropriadas. Inúmeros estudos ligam fazer psicoterapia, por exemplo, com níveis maiores de satisfação pessoal.
5 – Traçar objetivos fáceis, depois maiores
Traçar objetivos menores e mais fáceis de alcançar pode aumentar a sensação de satisfação do cérebro ao completar uma tarefa. A cada pequena conquista, uma sensação positiva recompensa o cérebro e o estimula a manter o trabalho. Além disso, tarefas menores tendem a intimidar menos e evitar a procrastinação.
6 – Fazer exercícios físicos
Além dos benefícios para a autoestima, fazer exercícios – mesmo os mais simples – pode elevar a produção de endorfina, um hormônio relacionado à felicidade. Alguns estudos comparam a eficácia de fazer exercícios físicos com a de tomar medicamentos antidepressivos (e resultados semelhantes).
7 – Arrumar a casa e a mesa de trabalho
Fazer atividades que lhe fazem se sentir no controle da própria vida tendem a aumentar a sensação de satisfação pessoal, além de aumentar o próprio comprometimento com as tarefas executadas.
8 – Estar perto de gente que eleva o moral
Pessoas tendem a responder melhor a situações difíceis quando estão cercadas de amigos. Estudos mostram que pessoas com mais contato com amigos tem menos risco de desenvolver câncer de mama e doenças coronárias, por exemplo.
9 – Falar com calma, saber ouvir, buscar relaxar
Não levar a vida tão a sério ajuda a manter os níveis de ansiedade mais baixos. Buscar olhar os próprios problemas como quem vê de fora (e pensar na importância que eles terão dali um ano) pode ajudar a acalmar os ânimos em um momento de pressão. Isso nos deixa menos na defensiva e nos permite uma comunicação com mais clareza.
10 – Estabelecer limites e princípios e ser firme com eles
Manter um senso forte de si é muito importante para não se perder sob pressão: é bom fazer algo pelos outros, mas é importante saber até onde se faz isso com conforto. Assim, a generosidade deixa de ser um peso e você não exagera no quanto dá de si.
Revisão técnica
Prof. Dr. Max Grinberg
Núcleo de Bioética do Instituto do Coração do HCFMUSP
Autor do blog Bioamigo